Por ter sido um padre católico,
Teilhard de Chardin propõe
em alguns momentos uma visão cristã.
Mas, na maior parte do tempo,
o discurso se apresenta independente
de religiões (mas densamente espiritual).
Gostaria de destacar e compartilhar um desses trechos (páginas 39 a 43 do livro), que em minha opinião sintetiza as ideias propostas no discurso.
(…) A verdadeira felicidade, acabamos de precisar, é uma felicidade de crescimento, e como tal ela nos espera em uma direção determinada por meio da
- unificação de nós mesmos em nosso âmago [centração];
- união de nosso ser com outros seres, nossos semelhantes [descentração];
- subordinação de nossa vida a uma causa maior que a nossa [supercentração].
(…)
1. Centração
Para ser feliz é, de início, necessário reagir contra a tendência do menor esforço, que leva ou a ficar imóvel, ou a buscar, de preferência na agitação exterior, a renovação de nossa vida.
Sem dúvida, é necessário que nos enraizemos profundamente nas ricas e tangíveis realidades materiais à nossa volta. Mas é no trabalho de nossa perfeição interior – intelectual, artística, moral – que enfim a felicidade nos espera. A coisa mais importante na vida, dizia Nansen, é encontrar-se a si próprio.
O espírito laboriosamente construído através e além da matéria.
2. Descentração
Para ser feliz, em segundo lugar, é necessário reagir contra o egoísmo que nos leva ou a nos fecharmos em nós mesmos ou a submetermos os outros ao nosso domínio. Há uma maneira de amar – má, estéril – segundo a qual buscamos possuir, em lugar de nos darmos. E é aqui que reaparece, no caso do casal ou do grupo, a lei do maior esforço, que já regia o curso interior de nosso desenvolvimento.
O único amor realmente beatificante é aquele que se exprime por um progresso espiritual realizado em comum.
3. Supercentração
E, para ser feliz – realmente feliz – é necessário, de uma maneira ou de outra, diretamente ou graças a intermediários gradualmente ampliados (uma pesquisa, uma empresa, uma idéia, uma causa…), transportar o interesse final de nossas existências para o andamento e o sucesso do Mundo à nossa volta. (…) é necessário, para atingirmos a região das grandes alegrias estáveis, que façamos a transferência do pólo de nossa existência a algo maior que nós. O que não supõe, tranquilizem-se, que para sermos felizes, devamos realizar ações grandiosas, extraordinárias, mas somente aquilo que está ao alcance de todos; que, conscientes de nossa solidariedade viva com Algo maior, façamos de maneira grandiosa a menor das coisas.
Acrescentar um único ponto, por menor que seja, à magnifíca trama da Vida; discernir o Imenso que se faz e que nos atrai no âmago e no fim de nossas ínfimas atividades; discerni-lo e aderir a ele: tal é, no final das contas, o grande segredo da felicidade. “É em uma união profunda e instintiva com a corrente total da Vida que reside todas as alegrias”, reconhece o próprio Bertrand Russell, uma das mentes mais aguçadas e menos espiritualistas da Inglaterra moderna. (…)
façamos de maneira grandiosa
a menor das coisas
Põe o quanto és no mínimo que fazes
Nessa semana que passou, tomei contato pela primeira vez com um texto que me pareceu bastante significativo. O texto faz parte de um livro bíblico, o Eclesiastes, cuja autoria é tradicionalmente atribuída ao sábio Rei Salomão. De fato, sua sabedoria está exemplificada nesse texto a que me referi:Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma.
(Eclesiastes, capítulo 9, versículo 10)
Imediatamente, lembrei-me daquele poema de Ricardo Reis (Fernando Pessoa):
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Esse talvez seja o segredo de estar aqui e agora. A maneira de estar verdadeiramente presente. E para isso, ensina-nos Ricardo Reis,
é preciso ser inteiro:
nada teu exagerar ou excluir.
Ou seja, ser você mesmo,
ser aquele que sua alma revela.
Sugestão de leitura:
Teilhard de Chardin, Pierre.
Sobre a felicidade / Sobre o amor.
Verus Editora, 2005.
Li
Fonte:
http://olharmutante.wordpress.com/tag/teilhard-de-chardin/
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário