segunda-feira, 8 de abril de 2013

ALICE NO PAÍS DA MARAVILHAS E PINÓQUIO - Análise Teológica e Simbologia Esotérica


 Synphonien Nr.35,40,41 - Wolfgang Amadeus Mozart
- Herbert von Karajan - 66min.

Uma análise teológica de Alice no País das Maravilhas


Por Daniel John Clark 

Aluno do Segundo Ano do STBC

 
1.0 Introdução

Muitos conhecem a história de Alice no País das Maravilhas apenas nas versões simplificadas para crianças ou no filme de Walt Disney . Porém nesse trabalho nós nos basaremos no "Annotaded Alice" comentada por Martin Gardner e que contém a versão original das duas histórias
sobre Alice : "Alice no País das Maravilhas" e "Alice através do Espelho."

Iremos concentrar nas várias filosofias apresentadas de maneira cômica nas duas histórias e na sua relevância para estudantes de teologia , concluindo como uma análise do discurso de Paulo no "Aerópago" de Atenas como um paradigma do confronto cristão com a filosofia secular e pagã .

Esperamos que esse trabalho possa mostrar um pouco mais da grande profundidade dessa obra prima da literatura inglesa .



2.0 Dados Biográficos
"Eu vi um homem muito velho , sentado no portão ."


Lewis Carroll foi o pseudônimo adotado pelo Reverendo Charles Lutwidge Dobson , nascido em 1832 na cidade de Daresbury , em Cheshire , Inglaterra . A sua família tinha 11 filhos sendo quatro homens e sete mulheres.Nesse ambiente predominantemente feminino Carroll cresceu para ser um jovem sensível , religioso e tímido . 

Carroll formou-se em Matemática na Christ Church College em Oxford aonde ele viria a ser palestrante . Aos 29 anos ele foi ordenado como diácono da Igreja Anglicana mais nunca foi ordenado sacerdote .Além das suas duas obras primas a respeito de Alice Carroll escreveu um poema popular "Sylvie e Bruno" e outras obras de menor sucesso .

Um homem solitário , sem nunca ter se casado , a vida particular de Carroll era destacada pela sua excêntrica amizade com crianças , especialmente meninas . A uma delas , Alice Liddell , Carroll dedicou as duas histórias que serão analisadas nessa monografia .
Sempre tendo uma vida particular discreta Carroll veio a falecer em 1898 .


2.1 Resumo das Duas Histórias

"Dessa maneira nasceu o conto do país das maravilhas , vagarosamente uma a uma , os seus episódios foram criados , e agora o conto está pronto ."


2.1.1 Alice no País das Maravilhas


Nessa história Alice decide seguir um coelho branco falador que estava olhando para o seu relógio através de um buraco e cai numa terra estranha cheio de personagens malucos e confusos . Depois de percorrer essa terra Alice volta à normalidade e descobre que estava sonhando . Essa história foi contada por Carroll para Alice e sua irmã durante um passeio e destaca-se por sua extrema espontaniedade .

2.1.2 Alice através do Espelho


Desta vez Alice atravessa o espelho e entra numa terra estruturada como um jogo de xadrez a qual ela precisa atravessar para tornar-se uma rainha . Essa história não tem a mesma espontaniedade da anterior mas em compensação mostra um preparo melhor da parte de Carroll sendo mais atraente para leitores adultos . Essa história nos interressará mais pois muitos dos personagens que ela encontra representam filosofias diferentes existentes na época de Carroll e os quais são relevantes para nós aspirantes a teólogos . Novamente no fim da história Alice descobre que estava apenas sonhando .

2.3 A Razão de uma Monografia sobre Alice


"E nós somos apenas crianças mais velhas , querida , chateados ao descobrir que é hora de dormir."


Nesse momento o leitor mais atento , e mais crítico , deve estar se indagando , porque fazer uma monografia num curso de teologia , sobre um livro feito para crianças . Como justificativa apresento as seguintes razões :

  1. O livro não é escrito apenas para crianças e têm atraído cada vez mais adultos , sendo um dos livros mais citados em palestras e em discursos .
  2. O livro explora brilhantemente e de maneira cômica e accessível , profundas questões filosóficas .
  3. Creio que como seminaristas nós muitas vezes somos como Alice , nos achamos ingenuamente e inocentemente no meio de uma terra estranha , cheio de filosofias e idéias estranhas e muitos personagens ( Sartre , Nietzsche , Bultmann , Aitzer , Hamilton) que nos parecem malucos . Infelizmente nós não podemos , como Alice , simplesmente acordar e descubrir que tudo não passou de um sonho .
  4. Esse livro já tem sido submetido a várias análise e interpretações : psicanalíticas , linguísticas e filosóficas e creio que uma análise teológica seria um acréscimo interessante nesse processo .
  5. Esse livro têm sido uma das grandes influências na estruturação ( ou des-estruturação ! ) da minha maneira de pensar e é o meu livro predileto da literatura inglesa .



"Quem nesse mundo eu sou? Ah ! Esse é o grande enigma ."


3.0 Conceitos Filosóficos Abordados por Carroll em Alice

Nessa seção iremos nos juntar com Alice num passeio pelo País das Maravilhas e A Terra do Espelho e encontrar várias formas diferentes de pensar .

3.1 Uma Conversa com um Lagarto


Uma das características da primeira história são as constantes alterações no tamanho da Alice . Por isso quando o Lagarto a pergunta : "Quem é você ?" Alice responde :

" Eu não sei , Senhor –nesse momento- pelo menos eu sabia quem eu era quando acordei hoje de manhã , mas eu creio que eu devo ter mudado diversas vezes desde então."


Essa dúvida que Alice tem reflete o espírito contemporâneo devido ao ataque pós-modernista ao eu cartesiano que desde Descartes caracteriza o pensamento moderno . A nossa ciência moderna está baseada no eu consciente e racional que existe a parte do corpo e desejos e que percebe o mundo ao seu redor como sendo objeto . O ser humano ideal do iluminismo é o cientista racional que consegue evitar que suas emoções e desejos irracionais interferem na sua busca do conhecimento e que portanto pode chegar à única e objetiva verdade . Todavia atualmente este eu cartesiano está sendo substituído pelo conceito de Heidegger de :

" seres … no mundo emaranhados em redes sociais ."

Dessa maneira o eu pós-moderno encontra se fragmentado e dissolvido no seu contexto social e cultural , não existindo mais a separação entre o sujeito e objeto ou entre o racional e irracional . Consequentemente ninguém pode ter certeza se é a mesma pessoa que acordou de manhã .

3.2 O Gato de Cheshire e a Filosofia do Absurdo


Mais adiante Alice encontra-se com um gato e ao perguntar-lhe que tipo de pessoas habitavam na sua terra ela escuta a seguinte resposta :

"todos somos malucos aqui . Eu sou maluco , você é maluca ."


Portanto além de habitarmos num mundo aonde o eu encontra-se dissolvido e fragmentado , esse é um mundo aonde todos são malucos . Na verdade um detalhe é consequência do outro , se não existe um eu consciente para ordenar o mundo e nossa compreensão dela , tudo não passa de um caos , do absurdo .
Essa visão do gato de Cheshire reflete a posição do existentialista que segundo David Cook :

"crê que não há significado em nada , ou em tudo colocado junto . O mundo é absurdo e sem sentido . Ser humano é escolher face ao absurdo desse mundo."


Essa escolha perante o absurdo é denominado pelos existencialistas como o processo de "autentificação" mediante a qual a pessoa afirma a sua humanidade num mundo definido por Sartre como sendo um mundo na qual é impossível encontrar "valores" quaisquer . 


Todavia , conforme critica o filósofo cristão Francis Schaeffer a escolha que nos torna humanos em si é vazia pois o seu conteúdo não importa . Schaeffer cita como exemplo o próprio Jean-Paul Sartre que afirmava que ao observamos uma velhinha atravessar a rua não havia diferença entre ajudar-lá ou atropelá-la pois em ambos os casos estávamos escolhendo , sendo humanos . 

Na teologia um exemplo de tal posição é encontrada em Rudolf Bultmann . Levado por sua exegese a duvidar do valor histórico das escrituras e interpretar-lás como sendo míticas Bultmann afirma que Deus não está mais presente na história mas na experiência subjetiva do homem histórico . Dessa maneira a fé destaca-se por trazer até nós subjetivamentee uma nova possibilidade de existência .Todavia como crítica Etienne Higuet:

" Bultmann substitui a questão da responsabilidade por um mundo de justiça no seio de uma história social e política pela questão de uma existência em acordo consigo mesma."
Como no existencialismo de Sarte o conteúdo da experiência existencial perde o seu valor e o ser humano apenas se autentifica num mundo na qual ele não pode transcender o seu individualismo .
Como teólogos cristãos não podemos cair na armadilha do existencialismo pois compete a nós trazer significado e mostrar o próposito divino nesse mundo criado por Deus .

3.3 A vida como um jogo de Xadrez


Na segunda história ao olhar sobre a terra Alice percebe que ela tem o formato de um jogo de xadrez . Ela pergunta à rainha vermelha se ela pode participar e escuta a seguinte resposta:

"Você pode ser o peão da Rainha Branca já que a Lily é jovem demais para brincar , e você começará no Segundo Quadrado e quando chegar ao oitavo quadrado você será uma rainha ."


Esse tema da vida como um jogo de Xadrez aparece diversas vezes na literatura e na filosofia especialmente em relação ao problema do determinismo . Até que ponto os seres humanos são livres para agir e até que ponto as suas ações são determinadas por forças fora do controle deles ?
Por exemplo em seu livro The Undying Fire H.G Wells começa a sua história com uma conversa entre Deus e o diabo que estão jogando Xadrez :

"O Rei do Universo cria o tabulareiro , as peças e as regras , ele faz todos os movimentos … o seu antagonista pode porém introduzir um certo elemento de erro que precisará de correção ."


Na teologia essa questão surge na polêmica a respeito da doutrina da predestinação formulada por Agostinho e elaborado por João Calvino . Nessa visão o que determina o destino eterno de Deus é a soberana vontade de Deus .Todos os seres humanos estão destinados ao inferno mas pela sua graça ele escolhe alguns para serem salvos enquanto que os outros são na prática escolhidos para não serem salvos . Efetivamente os seres humanos são portanto reduzidos a peças de xadrez cujo destino é determinado por forças fora do seu controle . Um argumento tradicional usado pelos calvinistas é que o termo "predestinação" aparece na Bíblia mas o termo "livre arbítrio" não .

Naturalmente tal visão nunca foi facilmente aceita por Cristãos e sempre tem havido na teologia a busca de introduzir um espaço para a liberdade do ser humano na definição do seu destino eterno desde o pelagianismo ao arminianismo . Nesse contexto é interessante observar que a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira busca reconciliar uma posição basicamente arminiana com a ênfase calvinista sobre a soberania de Deus .No nosso pensamento batista Deus continua controlando o jogo de xadrez , mas as peças ainda tem liberdade de decidirem o seu destino . Tal visão teria a simpatia de Lewis Carroll pois na sua história Alice age com autonomia . 

Biblicamente a posição de Carroll aparece no Livro de Jó . Superficialmente Jó parece ser uma vítima de uma discussão cósmica entre Deus e o diabo a respeito da sua fidelidade .Todavia numa análise mais profunda percebemos Jó agindo com bastante autonomia . É sua a decisão de não blasfemar contra Deus , todavia ele não hesita em negar que seu sofrimento seja consequência de seu pecado e a desafiar o próprio Deus para explicar a sua situação .Na Bíblia os seres humanos não tem controle total sobre as suas vidas , mas também são muito mais do que peças manipuladas em um jogo .

3.4 A floresta onde as coisas não tem nome e o problema da correspondência

"O que isso se chama ? Eu creio que ele não tem nome , com certeza ele não tem ."


No terceiro quadrado do seu jogo de xadrez cósmico Alice entra numa floresta aonde nada , inclusive ela , tem nome algum . Isso levanta o problema da correspondência , o fato de não podermos ter certeza nenhuma de que os nomes que nós damos às coisas correspondem ao que elas são de fato . Segundo os filósofos pós-modernos :

"Simplesmente não casamos partes da linguagem com partes do mundo , tampouco uma determinada linguagem fornece um "mapa" preciso do mundo. As linguagens são convenções sociais que mapeiam o mundo de diversas maneiras , dependendo do contexto em que estamos falando."


Portanto as nossas palavras não representam um mundo objetivo e sim criam um mundo subjetivo socialmente relativo . Por exemplo na física isso significa que não podemos teer certeza que a palavra "àtomo" representa e seja correspondente a qualquer coisa .Não existe um mundo objetivo mas apenas o mundo da linguagem , criado mediante um jogo linguístico entre quem fala e quem ouve .
Todavia tal cosmovisão destroí qualquer possibilidade de conhecimento e nós nos tornamos prisioneiros do nosso próprio mundo subjetivo . Dessa maneira não é nenhuma surpresa o fato de Alice atravessar a floresta agarrado com um veado em silêncio absoluto pois se não há uma correspondência objetiva não há sobre o que conversar .


3.5 Alice e os gêmeos idealistas


Uma tentativa de ordenar o estranho mundo na qual Alice se encontra é praticada pelos gêmeos Tweedledee e Tweedledum . Ao olharem para o Rei Vermelho dormindo surge o seguinte diálogo com Alice :
"-Ele está sonhando agora- disse Tweedledee :- e sabe sobre o que ele está sonhando ?
Alice disse - Ninguém pode saber isso .
-Ora sobre você !- exclamou Tweedledee , batendo palmas com triunfo .-E se ele parasse de sonhar sobre você , aonde você imagina que estaria ?
-Aonde eu estou agora é claro - disse Alice .
-Você não!- retrucou Tweedledee com desprezo - você estaria em lugar nenhum . Ora você não passa de uma coisa no sonho dele ’


Aqui encontramos a filosofia idealista do Bispo Anglicano George Berkeley . Segundo Berkeley as coisas só existem se são percebidas mas a existência de um mundo objetivo é assegurado pelo fato de Deus estar observando tudo . Portanto uma àrvore continua a existir mesmo se eu deixar de olhar para ela porque Deus está a percebendo .
Todavia enquanto que na floresta sem nomes todos ficamos presos sem a existência de um mundo independente das nossas mentes , aqui a situação é mais devastadora pois o que existe é apenas um mundo de natureza idealista presente na mente de Deus . O que nós olhamos e acreditamos ter uma existência concreta na realidade é apenas uma ilusão . Não é o caso do platonismo que afirmava existir um mundo ideal por detrás do mundo material , mas a negação da própria existência do mundo material .

3.6 A Semântica do Grande Ovo Nominalista e a Morte da Comunicação


A seguinte conversa frustrante surge entre Alice e o Grande Ovo : Humpty Dumpty .

"-Eu não entendo o que você quer dizer com glória ,- Alice disse .
Humpty Dumpty sorriu com desprezo :
-É claro que você não entendeu, até eu te explicar , eu quis dizer aí está um argumento devastador !
-Mas glória não significa um argumento devastador ,-Alice protestou .
-Quando eu uso uma palavra ,- Humpty Dumpty disse , de uma maneira arrogante , ela significa o que eu quero que ela significa , nada a mais , nada a menos .
-A pergunta é - disse Alice ,-se você pode fazer palavras terem tantos significados diferentes
-A pergunta é ,-disse Humpty Dumpty ,-quem será o mestre , apenas isso.


Aqui Humpty Dumpty adota a posição nominalista na semântica , a visão que prevalece entre os empiristas lógicos , de que as palavras são apenas sons verbais e não tem correspondência nenhuma a existências objetivas a não ser aquelas definidas por quem as usa . 

Na teologia isso torna-se importante porque trabalhamos com termos chaves ( Deus , pecado , salvação , perdão , Trinidade etc …) e muitas vezes não nos damos o trabalho de definir que queremos dizer com esses termos . Dessa maneira muitos dos grandes debates teólogicos , quando analisados profundamente não passam de discussões sobre como definir termos chaves .
Todavia levado ao extremo a posição de Humpty Dumpty nos conduziria ao silêncio absoluto , pois se não existe nenhum controle sobre como usamos as palavras nós todos iremos acabar falando línguagens completamente diferentes .

Uma saída engenhosa foi elaborada por Roger W. Holmes no seu artigo : A Alice do Filósofo no País das Maravilhas ."
"Em um certo sentido as palavras são os nossos mestres ou a comunicação seria impossível . Em outro sentido nós somos os mestres , ou não haveria poesia ."


Portanto a comunicação torna-se possível pois todos aderimos ao significado socialmente definido das palavras , mesmo se dessa maneira qualquer comunicação torna-se subjetiva , fruto dos sentidos socialmente negociados e culturalmente definidos das palavras.



4.0 O Conceito de "Nonsense" de Lewis Carroll



Um conceito muito importante nas histórias a respeito de Alice é a palavra inglesa "nonsense" que não tem equivalente no português . Literalmente o sentido da palavra "nonsense" é "sem sentido" e é usado para designar o uso de frases absurdas e paradoxais para efeitos cômicos . Todavia na obra de Carroll o uso de "nonsense" também tem implicações filosóficas e teológicas .
Basicamente o uso de "nonsense" por Carroll tem três dimensões :


4.1 O "Nonsense" Literalista


Nessa dimensão as palavras são interpretadas de uma maneira literal tão extremada que ocorrem situações absurdas como o seguinte diálogo entre Alice e o Rei Branco :

"-Não há nada como comer feno quando se está perto de desmair- ele disse enquanto mastigava.
-Eu imaginaria que seria melhor jogar agua gelada sobre si mesmo ,- sugeriu Alice - ou tomar sais.
‘Eu não disse que não havia nada melhor’ o Rei replicou .’Eu apenas disse que não havia nada como comer feno.’"

Teologicamente isso serve como uma alerta contra o fundamentalismo que tende a sempre buscar uma interpretação literal das escrituras .Existe todavia uma consequência linguística desse "nonsense"de proporções enormes .
O "nonsense" mostra que a mesma linguagem usada para formular frases "sérias" pode ser usada para formular frases absurdas . Mas surge então a pergunta de como podemos ter certeza a respeito da nossas frases "sérias" ? Como podemos ter certeza que a nossa ciência e a nossa sabedoria acumulada durante os séculos não é na verdade tão ridículo e absurdo quanto a conversa do Rei Branco ? Os habitantes do mundo das maravilhas e da terra do espelho negariam essa certeza a nós e zombariam de qualquer pretensão nossa à transcendentalidade da nossa linguagem .


4.2 O "Nonsense" Paradoxal

Nessa dimensão Carroll coloca juntos elementos que não tem relação nenhuma com efeito extremamente cômico . Um exemplo clássico são os versos abaixo extraídos do poema "A onça marinha e o Carpinteiro." declamado por Tweedledee :

"O sol brilhava no mar

Brilhando com todo o seu poder
E isso era estranho
Por que era meia noite

A lua brilhava chateada
Porque achava que o sol
Não tinha direito de estar lá
Depois do dia terminar
‘É Extrema falta de educação’ ela disse
‘Ele vir estragar a diversão’

‘A hora chegou ‘ a onça marinha disse
‘De falar de várias coisas :
De sapatos – navios – e selos
Repolhos e reis
Sobre porque o mar está fervendo
E se porcos tem asas .’"

Nesse poema Carroll zomba da nossa pretensão iluminista de querer estruturar e organizar o universo na qual habitamos . Ele mostra que essa organização pode ser feita facilmente de outra maneira com efeitos cômicos . Na realidade as nossas "Categorias ou Conceitos Puros do Entendimento" valorizadas por Kant como essencias no processamento da informação não passam de especulações a respeito de "repolhos e reis"

4.3 O "Nonsense" de "Jabberwocky"


Todavia o "nonsense" Carrolliano atinge o seu àpice no poema "Jabberwocky" considerado por críticos como um dos dez melhores poemas já escritos na língua inglesa . Aqui incluiremos apenas o primeiro verso :

" Twas brillig and the slithy tothes
Did gyre and gymble in the wabe
All mimsy were the borogroves
And the mome raths outgrabe . "


O essencial desse poema é que ele parece inglês , tem o som inglês , tem a estrutura gramatical do inglês , mas é escrita numa linguagem sem sentido . Aqui temos o nominalismo na sua forma extrema , as palavras são apenas meros sons , e qualquer comunicação objetiva é impossível .


Esse "nonsense" adotado por Carroll nos leva à narrativa bíblica da Torre de Babel . Nessa história conhecida os seres humanos buscam construir uma torre para chegar no céu . Descontente disso Deus desce e espalha a confusão de línguas mostrando como era absurdo e ridículo a pretensão humana de chegar à divindade .
Semelhantemente Carroll mostra como é absurdo e ridículo a nossa pretensão de qualquer conhecimento que seja absoluto ou objetivo , pois na realidade tudo que descobrimos por si só é sem sentido , "nonsense." Ou nas palavras de Francis Schaeffer :

"Os filósofos chegaram à conclusão que eles não iriam encontrar um círculo unificado rationalista que poderia conter todo pensamento , e na qual eles poderiam viver . Foi como se o rationalista descobrisse que estava preso numa sala redonda sem portas ou janelas , apenas a escuridão total ."


Tal attitude é refletida na descrição dos vários personagens com tendências filosóficas . O Gato de Cheshire não tem nenhuma forma corpôrea , o grande ovo nominalista é apenas um pretencioso , arrogante que sofre uma grande queda . Os gêmeos idealistas Tweedledee e Tweedledum são na verdade dois meninos mimados que brigam por qualquer besteira .
Teologicamente isso nos mostra que qualquer filosofia que não parte da revelação divina , que seja apenas racionalista em sua forma é vã e pretenciosa . O ser humano naufraga completamente quando deseja fugir da sua dependência de Deus pois ele é dependente da revelação divina para adquirir o conhecimento e da graça divina para obter a sua salvação .
Na análise do Livro de Gênesis alguns autores consideram a história da Torre de Babel uma mera etiologia destinada a explicar a existência de várias línguas diferentes ignorando o significado da história na teologia de Gênesis . Colocado antes do chamado de Abraão ela mostra o fracasso da tentativa dos seres humanos de alcançar a divindade em contraste ao desenrolar do plano da salvação na família de Abraão . Cabe a nós , como teólogos evangélicos , expôr o absurdo das filosofias humanas em contraste com a salvação oferecida de maneira gratuita por Deus .


5.0 O Comportamento de Alice como metáfora do dilemma do Seminarista


O comportamento de Alice face ao mundo estranho na qual ela se encontra é refletido muitas vezes no comportamento de seminaristas quando confrontados com as novas , e muitas vezes estranhas , idéias filosóficas e teológicas no seu curso . Um exemplo muito vivo disso é o debate entre Alice e os gêmeos idealistas . Esse diálogo tem duas principais características : o desespero e o desprezo .


5.1 Desespero

Quando confrontado com o idealismo de Tweedledee e Tweedledum a primeira reação de Alice é o desespero como ilustra o seguinte trecho :

"-Ora , não faz sentido você falar em acordar ele ,- disse Tweedledum ,- quando você é apenas uma das coisas no sonho dele . Você sabe muito bem que você não é real .
-Eu sou real!- disse Alice e começou a chorar .
-Você não se tornará real chorando- comentou Tweedledee :-não há razão para chorar.


Da mesma maneira é comum percebermos reações exaltadas e desesperadas entre seminaristas quando confrontados com idéias novas . Mas , parafraseando Tweedledee , nada muda com o desespero .
5.2 Desprezo

A segunda reação de Alice perante os gêmeos idealistas é o desprezo pelas idéias deles :

"-Eu sei que eles estão falando besteira- Alice pensou para si mesma -e é besteira chorar a respeito disso."


Muitas vezes existe a tentação de desprezarmos as idéias dos outros e ao invés de as debater simplesmente desprezar-lás como besteira . Dessa maneira nos isolamos num ghetto evangélico marginalizados dos grandes debates filosóficos da nossa era .
Pode ate ser que muitas das idéias defendidas pelos nossos opositores sejam realmente "besteira" mas isso não nos livra da obrigação de as discutir e as refutar .

Sendo o desespero e o desprezo adotados por Alice soluções insatisfatórias iremos encerrar o nosso trabalho com um exemplo positivo de engajamento teológico e filosófico , a do Apóstolo Paulo .



6.0 O Discurso de Paulo no Areópago em contraste com Alice


O discurso de Paulo aos intellectuais gregos no Aerópago (Atos 17: 15-34) poderia em si só ser tema de uma monografia , porém nosso objetivo será contrastar a atitude de Paulo com a atitude de Alice e a de muitos seminaristas . Como Alice e qualquer pessoa que entra num seminário em Atenas Paulo encontra um mundo estranho ,o que I . H Marshall chama-de :

"uma mistura de idolatria supersticiosa e filosofia iluminada"


Mas ao contrário de se esconder na "cidade da Filosofia" Paulo enfrenta os filosofos e intellectuais no seu próprio terreno . De exemplar no discurso de Paulo temos os seguintes elementos :


6.1 Coragem e Autoridade

Em contraste com o desespero e o choro de Alice Paulo não hesita em pregar a palavra de Deus com autoridade mesmo sendo desprezado e mal-entendido pelos atenienses conforme o seguinte trecho indica :

"Ora, alguns filósofos epicureus e estóicos disputavam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece ser pregador de deuses estranhos; pois anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição."
6.2 Respeito

Enquanto que Alice apela para o desprezo pelas idéias de seus opositores Paulo mostra respeito e compreensão . Em contraste com muitos hoje em dia , Paulo consegue ver o positivo nas idéais dos seus opositores e que pode ser usado para transmitir a mensagem do evangelho :

"porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração."


A referência aos poetas gregos mostra a disposição de Paulo em , ao invés de rejeitar completamente a cultura grega , utilizar elementos da própria cultura dos seus leitores para pregar a mensagem divina .
6.3 Relevância Cultural

Outro elemento a ser louvado no discurso de Paulo é a sua disposição em transmitir a mensagem cristã numa maneira que seja relevante aos seus ouvintes . Os filósofos epicureus acreditavam que as divindades ,se existissem , não interferiam na vida humana enquanto que os estóicos adotavam uma visão panteística . Paulo ,segundo Marshall :

"utiliza as perspectivas dos filósofos no seu ataque contra as crenças da população de Atenas ; os epicureus atacavam a crença supersticiosa e irracional nos deuses , expressos na idolatria enquanto que os estóicos enfatizavam a unidade da humanidade e sua ligação com Deus , e a consequente obrigação moral do homem . O que Paulo faz é apoiar os filósofos e depois demonstrar que eles não foram longe o suficiente."


Paulo não compromete a mensagem cristã no seu discurso de Atenas mas ele a estrutura e apresenta de uma maneira que seja culturalmente compreensível e relevante para os seus ouvintes . Muitas vezes não temos sucesso no nosso evangelismo porque apresentamos a nossa mensagem de uma maneira que não pode ser compreendida . Se queremos ser relevantes precisamos adotar uma terminologia e uma abordagem contextualizada que possa ao mesmo tempo ser fiel à mensagem do evangelho .


7.0 Conclusão
"A vida , o que ela é senão apenas um sonho?"


O que resta a ser dito depois de termos caminhado com Alice pelo País das Maravilhas e a Terra do Espelho ? Depois de termos conversado com lagartos , encontrado gêmeos idealistas e debatido com um ovo nominalista qualquer conclusão será por natureza um anti-clímax. Após o poder do "nonsense" como aventurar-se a trazer qualquer síntese ? 

Todavia se como o Gato de Cheshire afirma "somos todos loucos aqui" farei a loucura de tentar tirar duas conclusões teológicas a respeito das histórias de Alice .
7.1O Fracasso de qualquer projeto humanista ou racionalista

Carroll zomba das nossas tentativas de construir sistemas de pensamento que partam da nossa existência como seres humanos . O "nonsense" não deixa dúvidas :as nossas pretensões à objetividade não passam de absurdo , conversas sobre "repolhos e reis".Desse modo Carroll pode ser considerado como visionário prevendo o ambiente intellectual do final do século na qual o projeto iluminista e modernista está em frangalhos .

      1. A Necessidade de uma dependência completa de Deus

O fracasso do projeto humanista e racionalista nos lança na completa dependência de Deus . O caos e o absurdo cessam apenas quando se confia num Deus amoroso e criador . O conhecimento e a comunicação são apenas possíveis quando se têm a consciência de que Deus se revela até nós e comunica-se conosco através de sua Palavra .

A situação dos orfãos do modernismo é expressa na música "Bullet with Butterfly Wings"

"Agora eu estou nú , não passo de um animal ,… mesmo assim eu acho que eu posso mostrar todo o meu charme frio , Apesar de minha ira eu não passo de um rato na gaiola, E alguém dirá que os perdidos nunca poderão ser salvos … e eu ainda acredito que não posso ser salvo."


Aos que estão perdidos no caos e no desespero devemos pregar a mensagem do evangelho , a única que pode trazer significado à existência humana .

Façamos como Paulo e caminhemos destemidos pelo País dos Filósofos.



A simbologia esotérica de Pinóquio e de Alice no País das Maravilhas



As Aventuras de Pinóquio e Alice no País das Maravilhas são duas histórias para crianças carregadas de mensagens transpessoais, psicológicas e esotéricas, dois relatos de desenvolvimento pessoal, em que Pinóquio e Alice se vão desprendendo dos seus defeitos, limitações, ignorância e adormecimento, e tornar-se verdadeiros seres humanos com ajuda de duas personagens, respectivamente, o Grilo Falante e o Coelho, como acontece com a dupla Tamino-Pamina de A Flauta Mágica.

Mozart -  Die Zauberflöte K 620
Franz-Joseph Selig... 164min.

Há pouco tempo, Cecilia Gatto Trocchi, antropóloga da Universidade de Perugia, explicava que Pinóquio não passava de um texto maçônico carregado de esoterismo, cujas peripécias seriam perífrases de livros esotéricos, como o Livro dos Mortos e O Conto da Serpente Verde, do também maçom Goethe.
Realmente, Pinóquio, e também Alice no País das Maravilhas, é um texto maçônico, iniciático.

A razão é porque, não só ambas as histórias estão repletas de simbologia maçônica, como foram escritas por dois conhecidos maçons, o italiano Carlo Collodi e o inglês Lewis Carrol, respectivamente, no século 19, tal como a partitura da Flauta Mágica o tinha sido, pelo maçom Mozart, no século 18, sobre o texto de uma fábula maçônica.

 
 



De fato, na história de Pinóquio, Gepeto é um velho mestre que usa avental (mestre maçom) e, sonhando ter uma criança, faz um boneco de madeira (segundo os astecas, os Deuses criaram o ser humano de madeira, que tem um paralelismo com o trabalhar a Pedra), desenhando-o com um compasso (objeto maçônico). Ao ver a estrela azul (estrela flamígera), implora a realização desse desejo, o qual lhe é concedido: enquanto dormia, a Fada Azul (Mãe Divina) deu vida ao boneco, advertindo-o para que se comportasse como um menino de verdade (Homem autêntico, autorrealizado). E para aconselhá-lo, presenteia-o com o Grilo Falante (a Consciência).

Mas Pinóquio tem um Ego hipertrofiado, produto de distintos vícios que foi acumulando. As mentiras fazem-lhe crescer o nariz e as orelhas de burro depois, num paralelismo muito semelhante à história do Príncipe com Orelhas de Burro, que a tradição maçônica costuma utilizar para exemplificar nossa vida superficial, fútil e inconsciente.

Pinóquio paga as consequências dos seus atos quando é engolido por uma baleia, à semelhança do Jonas bíblico, num paralelismo também à Câmara de Reflexão das iniciações e ao Ritual no 3º grau na morte de Hiram Abiff, existentes na Maçonaria.

No ventre da baleia, Pinóquio decide mudar, deixando para trás a vida inconsciente, e, sendo expelido pela Baleia, afoga-se, também num paralelismo com a Morte Mística do  iniciado, que, na Câmara de Reflexão, morre para a vida profana, renascendo para a vida iniciática, e do mestre que, no Ritual de 3º grau, se desprende de sua carne e ossos, para ressuscitar espiritualmente.

E da mesma forma que o iniciado e mestre, Pinóquio acorda do afogamento, renascendo sob uma forma humana mais elevada, tonando-se um Homem de verdade.

E Pinóquio é Homem de verdade, também segundo a interpretação psicológica da história, quando, transformando-se num menino de carne e osso, vence o gato e a raposa (as manifestações egoicas nos Centros Instintivo-Motor e Emocional).

No antigo tratado japonês Yagyun sobre a espada e a filosofia zen, explica numa frase: “Transforma-te num boneco de madeira: o boneco não tem Ego, nada pensa, e deixa que o corpo e os membros trabalhem por si mesmos de acordo com a disciplina que experimentaram. É este o caminho para a vitória”.

 
 

Na história de Alice no País das Maravilhas, que, inicialmente, de forma reveladora do seu carácter simbólico, o seu autor intitulou Alice Debaixo da Terra, numa alusão à descida ao interior de si próprio do aprendiz maçom, o paralelismo com as Aventuras de Pinóquio é notório:

A estrutura da história segue do princípio ao fim o esquema de uma a sessão iniciática de um templo gnóstico-maçon, a que são adicionados alguns elementos de fantasia e personagens. Alice estava aborrecida, cansada de ficar sentada num banco com a irmã, sem nada para fazer. Estava de olho no livro que a irmã lia, mas logo se desinteressou, já que ele não possuía imagens ou diálogos. A menina estava convencida de que um livro sem imagens e sem diálogos não valia a pena (futilidade, inconsciência).

No meio dessa monotonia, levanta-se para colher margaridas para um colar, sendo surpreendida por um velho coelho de luvas brancas (mestre maçom de luvas brancas que introduz o Iniciado), sempre preocupado com o atraso para a reunião (no templo ou na loja). 

Curiosa, Alice segue o coelho, entrando numa toca (Câmara da Reflexão, caixão do Mestre Hiram), onde vê uma porta, mas não consegue entrar antes de passar por sucessivas transformações e provas (como as provas de iniciação maçônica) e só depois tem acesso, através da porta, que finalmente se abre, ao jardim onde três jardineiros (os três oficiantes da loja: Sacerdote, 1º e 2º Vigilantes) pintavam rosas brancas de vermelho (a transformação que se opera em cada um ao transpor a porta do templo) e chamavam-se uns aos outros como se tivessem números (nomes simbólicos dos maçons), o cortejo da rainha (o cortejo de entrada), o jogo de críquete entre todos (a Cadeia de União ou de Irradiação de Amor), a ordem de cortar as cabeças (o gesto do estar “à ordem” em Maçonaria), as deliberações e votações (também na forma maçônica), todos elementos da iconografia e simbologia maçônica, provas essas, que a levaram ao conhecimento de si mesma. 

Isso tudo sem falar do famoso chá, feito de uma certa “planta de poder”, usada para amplificar a Consciência (aumentar ou diminuir de tamanho), usada por Iniciados para experienciar os Mundos Internos…

 
 
 

Cada experiência pela qual Alice passa, com as sucessivas transformações em que cresce e diminui, explica-lhe que vivemos cercados de estímulos aos quais se reage conforme o Nível de Ser que se tem. “O País das Maravilhas existe.” O trabalho de autoaperfeiçoamento na subida gradual na Escada de Jacó, que é o símbolo maçônico do crescimento gradual na Sabedoria, é possível.

Como diz a última frase da história: Alice aprendeu “que para voltar ao País das Maravilhas basta conservar o coração puro e os olhos tão transparentes como o céu de verão”. Uma conclusão que se pode reverter na máxima maçônica: o maçom, para estar em comunhão com a ordem, basta ter o coração puro e os olhos transparentes como o céu estrelado da sua loja.

O Grilo Falante de Pinóquio e o Coelho de Alice representam a nossa Alma Divina, a Consciência, também nosso “Remorso”, adormecida e presa pelo Ego e pela Mente, pelos desejos inferiores egoicos que temos, como Pinóquio e Alice, que ouvir e seguir na formação do coração e esclarecimento do espírito.
Ambas as histórias relatam simbolicamente o caminho longo e cansativo de um iniciado maçom. O Trabalho pelo qual a Pedra Bruta se transforma numa pedra trabalhada e viva…

Demonstram os passos do Caminho, as suas Provas, nas quais se prepara o espírito para se tornar digno de entrar no Templo (Interior), naquele templo verdadeiro, que é feito sem ruído de pedra ou de martelo, em que a luz do Conhecimento (Gnose) permanece eternamente.

A entrada de Pinóquio no ventre da Baleia e a descida de Alice à toca do Coelho é o regressus ad uterum de todos os ritos iniciáticos que implicam transformação simbólica em embrião e uma pré-morte, seguida do regresso à Grande Mãe da etiologia, onde o iniciado nasce pela segunda vez.

Essa penetração na Grande Mãe é muitas vezes perigosa: no Pinóquio, a entrada no ventre da Baleia, além da já referida semelhança bíblica, encontra-se muitas vezes noutros mitos e sagas do antigo Oriente  e do mundo mediterrânico de raiz iniciática, tendo paralelismo com o mito polinésio de Mauí, o grande herói maori que, regressando à pátria, para a casa da avó, encontrando-a adormecida, se despe e penetra no corpo de uma gigante, a Grande Dama da Noite, Huie-muite-po, atravessando-a, mas, ao sair, ela acorda de sobressalto, apertando-o entre os dentes e cortando-o ao meio.

Em Alice, a descida à toca tem paralelismo com os ritos iniciáticos relativos às grutas e fendas das montanhas, símbolos da matriz Terra-Mãe em muitas culturas. Por exemplo, o termo chinês “tang”, designando gruta, também significa “misterioso, profundo, transcendental”, todos arcanos revelados nas iniciações.

Essas duas representações do Além, em Pinóquio sob a forma de ventre da Baleia, e em Alice sob a forma de toca, ilustra que o outro mundo é um local de acesso extremamente difícil.

A porta em forma de mandíbula, no caso de Pinóquio, e a simples porta impossível de transpor, no caso de Alice, significam a dificuldade da passagem e refletem a necessidade da mudança do modo de ser para poder atingir o mundo do espírito.

Em suma: independentemente da interpretação psicológica que muitos autores fazem das histórias de Pinóquio e Alice, que é rebuscada e não estava na intenção dos seus autores, elas têm na sua gênese uma conotação maçônica e esotérica, porque os seus criadores eram maçons, a simbologia e estrutura de ambas é maçônica e descrevem a viagem atribulada e solitária da cada ser humano, pobre, nu e cego, na procura constante da Sabedoria e da Espiritualidade, que vem já das mitologias e dos ritos de iniciação antigos e que várias culturas, religiões e a própria Gnose e Maçonaria adotaram para explicar simbolicamente a transformação espiritual de cada indivíduo para comungar com a Divindade.




Análise Psicológica e Interpretativa

 do Romance Alice no País das Maravilhas



Aline Haiddé de Brito
 

UNIPAM – Orientação:
 Prof. Dr. Luís André Nepomuceno
 
Interpretações Psicológicas e Filosóficas do romance Alice no País das Maravilhas

Alice é uma obra que permite várias interpretações. Uma delas é a de que as mudanças,
conflitos e aprendizados da adolescência podem estar representados na obra. Alice
entra na aventura sem pensar em nada, de repente, como se entra na adolescência. A questão do tamanho nos lembra que a adolescência está presente em todos os episódios da história:

“Alice está sempre
 crescendo e diminuindo dependendo da situação 
e isso certas vezes é conveniente ou não para ela”.


Resumo Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, é um romance inglês moderno
extremamente complexo que propõe as mais variadas interpretações por abordar em seu
contexto assuntos de diferentes temáticas. Através deste artigo, por meio de uma pesquisa
bibliográfica, pretende-se fazer uma análise de caráter interpretativo do romance Alice no País  das Maravilhas.
Palavras-chave
Alice no País das Maravilhas.
 Lewis Carroll.
 Romance Inglês Moderno.

1. Considerações iniciais
Alice no país das maravilhas é um dos livros mais editados da literatura moderna e
influenciou vários grandes escritores, como Jorge Luis Borges, Cortazar, Maria Clara Machado  e Guimarães Rosa. Um romance extremamente complexo que propõe as mais variadas  interpretações por abordar em seu contexto assuntos de diferentes temáticas.
Os dois romances de Lewis Carroll (pseudônimo de Charles Lutwidge Dodson), Alice
no país das maravilhas e Alice através do espelho, publicados em 1865 e 1872, são extremamente  intrigantes e capazes de mexer muito com a imaginação de seus leitores, porém  este artigo detém-se apenas na análise do primeiro.
 
Os elementos típicos dos contos de fada, animais que falam, reis e rainhas, mudanças
de tamanho em um passe de mágica, personagens enigmáticos que aparecem e desaparecem de uma hora para outra, além do fato de a história se passar dentro de um sonho, torna tudo muito complexo e curioso.
 
Partindo-se dos referidos pressupostos, desenvolvemos uma análise interpretativa
da obra Alice no país das maravilhas, buscando compreender um pouco melhor o seu enredo.

2. O autor e sua obra
Charles Lutwidge Dodgson (mais conhecido como Lewis Carroll) nasceu em 27 de
janeiro de 1832, em Daresbury, Inglaterra e morreu em Guidford, Inglaterra, em 14 de janeiro
de 1898. Filho de um pastor anglicano, Lewis Carroll tinha 10 irmãos e cresceu num
ambiente onde aprendeu a contar histórias, cuidar e distrair crianças. Apaixonado por matemática e fotografia, foi nomeado professor de matemática em Oxford em 1861. Como fotógrafo  amador, fotografava invariavelmente meninas entre 8 e 12 anos de idade.
 
Tornou-se famoso por seus dois livros, Alice no país das maravilhas e Alice no país
do espelho, que tiveram como inspiradora Alice Liddell, de apenas dez anos, por quem ele
tinha uma paixão platônica. Carroll nunca assumiu sua paixão por meninas, que ficou registrada  através de várias fotos de nu infantil feitas por ele.
 
Não se deve afirmar com certeza que os livros Alice no País das Maravilhas e Alice
através do espelho, sejam necessariamente livros infantis. “Pois não há nada por trás dos
enredos e personagens desses dois livros que não esteja rigorosamente referenciado, seja
através de dados da própria existência de Carroll, seja através de inúmeras alusões literárias,
científicas, lógico-matemáticas, etc.” (CARROLL, 1980, p. 7).

3. Origem do livro
Em 4 de julho de 1862, um barco a remo transportava o reverendo Charles Lutwidge
Dodgson numa excursão pelo rio Tâmisa. Junto a ele, além do amigo Robinson Duckworth,
estavam as três irmãs Liddell: Lorina Charlotte, de 13 anos; Alice Pleasence, de 10
anos; e Edith, de 8 anos. Cada uma recebeu um apelido, ao longo da viagem, respeitando a
ordem de nascimento. Assim, Lorina foi denominada “Prima”, Alice “Secunda” e Edith
“Tertia”. O evento não era algo incomum na vida daquelas pessoas, o reverendo acostumara-
se a levar as irmãs Liddell em passeios pelo rio, alternando conversas e contos de fadas
inventados em cada ocasião, geralmente esquecidos nos momentos seguintes. Porém, Prima, Secunda e Tertia foram eternizadas num poema, que alude explicitamente àquela sexta-feira, naquela tarde de verão. E a história que povoou a imaginação das três meninas foi anotada, escrita e reescrita, depois publicada pelo reverendo em 1865, tornando-se um dos  maiores clássicos da literatura de todos os tempos. O poema e a história foram dedicados a Alice Pleasence Liddell. Assim, Alice no país das maravilhas e depois Alice através do espelho  alçaram o pseudônimo Lewis Carroll à posição de destaque na história da literatura, marcada pelo pioneirismo no tratamento das situações e também pelo uso até certo ponto incomum do recurso do nonsense (termo inglês que indica ausência de sentido) para o público  infantil.

O nonsense de Carroll continha um elemento extra na formação do texto: a matemática.
A obra de Carroll foi constituída através de jogos de linguagem, baseados na Lógica,
nos quais os capítulos só terminam quando as proposições se esgotam. Carroll usou de
seus conhecimentos matemáticos e lógicos para construir proposições em Alice no País da
Maravilhas, sendo muitas vezes o significado particular da frase superado pela forma, sugerindo brincadeiras comuns em sua época.

4. Composição do romance
Os episódios que compõem uma narrativa, localizados no tempo e no espaço desejados
pelo escritor, dependem de algum recurso de ligação para garantir a sua coerência
interna. Este recurso pode ser estabelecido através do ritmo, do narrador, de um limite de
tempo ou até mesmo de um personagem, entre outras possibilidades.

A análise do sumário da obra, observando os títulos dos capítulos, permite ver uma
colagem de histórias, casos curtos que poderiam existir independentemente, se não fosse a
intenção do autor escrever um verdadeiro conto de fadas, tornando a viagem pelo país das
maravilhas um sonho de Alice, e fazendo a correspondência ao episódio inicial em que ela lê
um livro enfadonho antes de cair no sono. A Lagoa de Lágrimas, Um Chá Maluco e O Campo
de Croqué da Rainha são capítulos que remetem o leitor a cenas muito visuais, seja pela
descrição nada usual dos acontecimentos ou pelo inusitado dos diálogos.

A concordância entre o início e o final aparece como uma prova de coerência na
construção da narrativa, pois os leitores não exigem uma lógica total dos acontecimentos
dentro do romance, uma vez que se trata do enredo de um sonho, universo onde as coisas
mais incomuns são aceitas como naturais.

5. As diversas alusões dentro da obra
Vários personagens e situações de Alice no país das maravilhas tiveram como inspiração
o cotidiano de Lewis Carroll e a comunidade onde viveu. A personagem Alice foi
inspirada em Alice Liddell, filha de Liddell, amigo de Carroll. Apesar de a menina e a personagem terem o mesmo nome, ambas eram muito diferentes: Alice Liddell era morena, comum e insípida, ao contrário da Alice de Lewis, que era loira, esperta e agitada. As irmãs
Liddell eram muito afeiçoadas aos dois gatos malhados da família, Dinah e Villikens.

O frasco de remédio vitoriano era arrolhado, com um rótulo de papel amarrado no
gargalo assim como a garrafa com o líquido que Alice toma para encolher em sua primeira
mudança de tamanho.

Uma chave de ouro que destrancava portas misteriosas era um objeto comum na literatura
vitoriana. A portinha para um jardim secreto era para Carroll uma metáfora de
eventos que poderiam ter acontecido se tivesse aberto certas “portas”. As doze mudanças de
tamanho sofridas por Alice ao longo da história poderiam estar ligadas ao desejo dele de
que Alice Liddell fosse adulta para que pudesse se casar com ela. O poema da carta usada
como prova pelo Coelho Branco no julgamento é inspirado pela canção Alice Gray, que conta
à história do amor não correspondido de um homem por uma moça chamada Alice.

Carroll pode ter pretendido que a “corrida em comitê” simbolizasse o fato de que os
membros de comitês políticos geralmente correm muito em círculos, sem chegar a lugar
algum, pois todos almejam um mesmo prêmio político. O dedal tomado de Alice e depois
devolvido a ela como prêmio pela corrida, pode simbolizar o modo como os governantes
tomam dinheiro do bolso dos cidadãos e depois devolvem na forma de projetos políticos.

Mary Ann, na época de Carroll, era um eufemismo britânico para criada. O coelho
Branco chama Alice assim em um momento no qual dá ordens a ela. Ele está sempre procurando por suas luvas, peças tão importantes para Lewis quanto para o Coelho, pois em todas as estações do ano o escritor sempre usava um par de luvas de algodão cinzentas ou
pretas.

No capítulo “Conselhos de uma Lagarta”, a lagarta lê o pensamento de Alice. “Carroll
não acreditava em espiritualismo, mas acreditava na realidade da percepção extrasensorial
e no poder da mente mover ou deformar objetos inanimados.” (GARDINER, in:
CARROLL, 2002, p. 50). A Lagarta fora inspirada nos professores que davam conselhos na
Universidade de Oxford, onde Lewis estudou.

Em toda a história de Alice são encontrados 24 poemas, entre os quais 10 são paródias
de poemas e canções inglesas da época de Lewis Carroll. “Os poemas e os versos que
Alice recita, e que parecem não ter sentido nenhum, são sátiras aos poemas enfadonhos que
as crianças inglesas daquela época tinham que saber de cor.” (www.educ.fc.ul.pt/docentes/
opombo/seminario/alice/comosurgiu.htm). A posição de Alice, de mãos unidas, ao fazer
recitações indica que era exigido das crianças da época saber as lições de cor.

O autor do romance adorava crianças, mas detestava meninos. “Certamente não foi
sem malícia que Carroll transformou um bebê do sexo masculino num porco, pois não tinha
menininhos em alta conta.” (GARDINER, in: CARROLL, 2002, p. 61).

A nogueira onde aparece o Gato de Cheshire ainda existe nos dias de hoje, no jardim
do Colégio de Deanery. O Gato de Cheshire refere-se aos queijos do condado de Cheshire
(onde Carroll nasceu) que tinha a forma de um gato sorridente. Ao partir o queijo na forma
de gato, a tendência seria começar pela calda até que finalmente só restasse na travessa a
cabeça sorridente, o que nos remete ao episódio no qual o gato desaparece a começar pela
cauda e termina com o sorriso.

O dia do chá maluco não é uma data qualquer, é o dia do aniversário de Alice Liddell,
4 de maio. Ninguém diria a uma menina vitoriana que seu cabelo estava comprido
demais. A observação “seu cabelo está precisando de um corte” dita pelo Chapeleiro Louco,
na verdade, era uma frase muito ouvida por Carroll, pois este usava os cabelos mais longos
do que era costume. A história que o caxinguelê conta sobre 3 irmãs que vivem em um poço
de mel (Elsie, Lacie e Tillie), refere-se às 3 irmãs Liddell: Lorina, Edite e Alice. A parte na
qual a Lebre de Março e o Chapeleiro Louco tentam enfiar o Caxinguelê no bule de chá pode
estar relacionada ao fato de que crianças vitorianas costumavam ter ratinhos como bichos
de estimação e conservavam-nos dentro de bules cheios de capim ou feno.

A Lebre de Março refere-se ao mês do cio das lebres; o Chapeleiro é louco por causa
de uma substância alucinógena usada na fabricação de chapéus; o Leirão dorme muito por
ser um animal que hiberna no inverno e a Falsa Tartaruga refere-se à sopa de falsa tartaru-
ga, que na verdade é feita com carne de vitela. Na catedral, onde o pai de Lewis era reverendo,existe talhada em madeira a imagem do grifo que inspirou o Grifo, amigo da Falsa Tartaruga.
 
“O grifo é um monstro fabuloso com cabeça e asas de águia e a parte inferior do
corpo de leão.” (GARDINER, in: CARROLL, 2002, p. 91).

“A “Quadrilha da Lagosta” pode ter sido pensada como uma brincadeira com a
“Lancers Quadrille”, dança para 6 a 8 pares que era imensamente popular nos salões de
baile ingleses na época em que Carroll escreveu seus livros de Alice.” (idem, 2002, p. 97).
Carroll dedicava muito tempo à invenção de maneiras inusitadas de jogar jogos conhecidos,
e talvez por isso, o jogo de croqué da Rainha possuísse elementos vivos. Camomila
era um medicamento extremamente amargo, muito usado na Inglaterra Vitoriana, e era
extraído da planta de mesmo nome, por isso, Alice afirma que a camomila torna as pessoas
amargas.

Durante uma conversa com a duquesa, Alice fica indecisa entre classificar mostarda
como animal, mineral ou vegetal. Trata-se de uma referência ao popular jogo de salão vitoriano “animal, vegetal, mineral”, em que os jogadores tentavam adivinhar o que alguém
tinha em mente. 

As primeiras perguntas feitas eram tradicionalmente:
 É um animal? É um vegetal? É um mineral? 
As respostas tinham de ser sim ou não, e o objetivo era adivinhar
corretamente em 20 perguntas ou menos.

Devido às semelhanças no comprimento dos nomes, e às posições das vogais, consoantes
e letras duplas no último nome, acredita-se que Charles tenha se inspirado na formação
do nome de Alice Liddell para criar seu pseudônimo Lewis Carroll.

6. Alice e o tamanho
6.1 O tamanho e o caminho para a maturidade
Alice no país das maravilhas é a narrativa do sonho de uma garotinha. Como é comum
em todos os sonhos, as regras da realidade são quebradas, e isso é analisado pela própria
personagem como em um jogo. A garotinha precisa entender e resolver o jogo, antes
que sua irmã a acorde e a traga de volta ao mundo real e normal.

Alice é uma obra que permite várias interpretações. Uma delas é a de que as mudanças,
conflitos e aprendizados da adolescência podem estar representados na obra. Alice
entra na aventura sem pensar em nada, de repente, como se entra na adolescência. A questão do tamanho nos lembra que a adolescência está presente em todos os episódios da história:
 
“Alice está sempre
 crescendo e diminuindo dependendo da situação 
e isso certas vezes é conveniente ou não para ela.”
(http://www. pt.wikipedia.org/wiki/ Alice_ no_ País_das_Maravilhas).


No primeiro capítulo, Alice reduz de tamanho e parece se tornar insignificante. Essa
transformação faz com que ela tenha medo de encolher até desaparecer. Em alguns episó-
dios, Alice cresce de forma desenfreada. O adolescente se sente insatisfeito, ao perceber que crescer traz consigo inúmeras responsabilidades.
 
Em várias circunstâncias o tamanho representa novas possibilidades. Pequena, Alice
pode entrar no jardim, mas grande, pode pegar a chave. Grande, sente-se mais confiante
no julgamento no final do livro.

Na passagem em que o pescoço de Alice cresce, sua capacidade de observação se
torna mais ampla. Depois de experiências vividas na adolescência passamos a ter uma nova
visão do mundo. Alice considera o país das maravilhas mais divertido, mas sente saudades
do mundo real. O adolescente adora as novas possibilidades dessa fase, mas sente saudade
das facilidades da vida enquanto criança.

No país das maravilhas, Alice sente que pode usar a mágica como recurso para tornar-
se invencível. Ao afirmar que quando for adulta vai escrever um conto de fadas, revela o
desejo de controlar tudo que acontece no mundo a sua volta.

Quando Alice fala sobre a dúvida de quem realmente é, no diálogo com a cigarra, a
personagem demonstra um estado confuso típico da adolescência diante da rapidez com
que as mudanças acontecem.

Ao final do livro, Alice recupera seu tamanho normal, porém a maturidade vinda
das experiências vividas ao longo da história a investe de uma grande coragem para enfrentar

o julgamento. Quando Alice acorda, sua irmã pensa se ao crescer ela conservará o coração
simples e amoroso da infância. Lembra alguém que passou pela adolescência e se lembra
dela com saudades. Nesse momento, a irmã de Alice percebe que ela despertou do sonho
muito mais madura.

6.2 Alice e o problema do tamanho
As mudanças de tamanho mexem com o psicológico da personagem, levando-a a
explorar suas capacidades, enquanto impõe novas circunstâncias a cada capítulo, fazendo o
romance progredir.

Tome-se por exemplo um dos episódios iniciais em que Alice está num grande salão e
identifica uma porta pequena na parede, antes escondida por uma cortina. A menina
então encontra uma chave minúscula, sobre a mesa de vidro, e abre a portinha, revelando
um belo jardim. Sua intenção é chegar àquele novo lugar. E a necessidade de Carroll
é avançar no romance, criando novas peripécias para a protagonista. A transformação
do tamanho aparece, pois, como uma solução para o desejo de Alice (e de Carroll).
(http://paginas.terra.com.br/arte/dubitoergosum/orientando20.htm#*).

O problema do tamanho lida com o crescimento e os obstáculos encontrados no caminho
para a maturidade. A personagem busca se superar diante de cada obstáculo desenvolvendo
a postura de uma heroína, e nem mesmo a sua constante crise de identidade a
impede de continuar questionando e desejando mudar seu tamanho para ultrapassar portas
e adentrar recintos novos. A última mudança acontece espontaneamente, talvez porque
Alice estivesse prestes a voltar à realidade.

7. Teorias científicas presentes na obra
Na época de Carroll, era uma curiosidade comum desejar saber o que aconteceria se
alguém caísse em um buraco que passe pelo centro da terra. Estudando sobre a travessia
até o centro da terra feita pela toca do coelho, percebe-se a referência feita à teoria de Galileu

sobre a relação entre velocidade e aceleração. Em alguns trechos nos quais ocorre queda
livre, ele teria, de certa forma, antecipado a “experiência de pensamento” em que Einstein
usou um elevador imaginário em queda para explicar certos aspectos da teoria da relatividade.

As mudanças de tamanho sofridas por Alice também fazem alusão ao princípio do
telescópio, o qual fascinava Carroll imensamente. Estudiosos da obra de Lewis, usando a
teoria da relatividade, comparam o chá maluco, em que são sempre 6 horas, com a porção
do modelo do cosmo de De Sitter, em que o tempo permanece eternamente imóvel.

8. Referências histórico-lingüísticas e socioculturais
As histórias de Carroll possuem referências histórico-lingüísticas, e muitas vezes, é
necessária a decodificação para uma compreensão perfeita de sentido do que é dito.
Carroll usou elementos típicos dos contos de fadas para chamar a atenção das crianças,
como animais que falam e a presença de reis e rainhas, além da cronologia indefinida.
Porém, as histórias de Alice não podem ser consideradas contos de fadas, pois abordam
questões históricas em suas narrativas, como por exemplo, críticas à sociedade inglesa do
período vitoriano.

A obra reproduz vários aspectos comuns à cultura inglesa da época vitoriana. Até
mesmo na Inglaterra é provável que o leitor de Alice não seja capaz de compreender todos
os significados propostos por Carroll, considerando os costumes do século XIX, as menções
ao folclore regional, as piadas que só eram entendidas em Oxford e as alusões à sociedade
daquele período.

A inversão do sentido presente na obra pode ser caracterizada como crítica, considerando-
se a Inglaterra de meados do século XIX como um dos países onde mais se afirmava a
racionalidade, ou ao menos um princípio lógico para justificar tudo na sociedade, até mesmo
questões difíceis de serem justificadas, como os privilégios e a miséria.

9. Considerações Finais
Para uma interpretação mais satisfatória do romance Alice no País da Maravilhas,
foi necessária uma pesquisa sobre os diferentes temas abordados de forma direta e indireta
dentro da obra, pois o autor Lewis Carroll utilizou-se de vários fatores de seu cotidiano como
também de conhecimentos matemáticos e científicos para criar os episódios que compõem
o livro.

A composição da história criada durante um passeio de Carroll e das irmãs Liddell
pelo rio Tâmisa sofreu influência das várias lembranças da infância do autor no Condado de
Cheshire e também dos conhecimentos por assuntos que muito interessavam a ele, como a
matemática e as diversas teorias científicas, que determinaram todo o desenvolvimento da
trama de Alice, principalmente no que diz respeito à ligação dos capítulos pelas inúmeras
mudanças de tamanho sofridas pela personagem principal.

As críticas e alusões a costumes da sociedade inglesa do período vitoriano também
tiveram imensa importância na construção do romance, o que de certa forma, torna a
compreensão para leitores externos a este contexto um tanto complicada, pois o livro traz
informações em que a compreenção ficaria limitada, até mesmo, a determinadas regiões da
Inglaterra.

Assim, fizemos uma leitura do romance tão profunda quanto nos foi possível com o
objetivo de compreender um pouco melhor o enredo do mesmo, desvendando o universo
dessa trama que mistura “sonho” e “realidade”, seduzindo os leitores através do fantástico.





 Li-Sol-30
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