quarta-feira, 17 de abril de 2013

WAGNER - KARAJAN -TANNHAUSER - 183'- CONCEPÇÕES DE ARTE...

 
 
  
Wagner - Karajan - Tannhauser -Abertura- 15:02
 Richard Wagner Tannhauser Overture Herbert Von Karajan Vienna Philharmonic Orchestra
 
Wagner - Karajan - Tannhauser Full - 183'
 Wenkoff,Jones,Sotin,Weikl,Schunk,Rickering

Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg (Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg, em alemão) é uma ópera em três atos com a música de Richard Wagner, e com o libreto do próprio compositor. Estreou no ano de 1845 na cidade Dresden, na Alemanha.

Sinopse

Baseada numa lenda medieval, conta a história de Tannhäuser, um menestrel que se deixa seduzir por uma mulher mundana, de nome Vênus, contrariando assim a defesa do torneio dos trovadores a que ele pertence de que o amor deve ser sublime e elevado. Quando Tannhäuser defende deliberadamente o amor carnal de Vênus, é reprimido pelos trovadores e consolado apenas por Isabel, uma virgem que o ama muito. É-lhe dito que sua única chance de perdão é dirigir-se ao Vaticano e rogar o perdão do Papa. Tannhäuser segue, então, com o torneio até Roma, mas de maneira auto-punitiva: dormindo sobre a neve, enquanto os demais estão no alojamento; caminhando descalço sobre o chão quente, passando fome, e ainda com os olhos vendados, para não ver as belas paisagens da Itália. Ao chegar diante do papa, em vez de obter o perdão, ouve o papa dizer que é mais fácil o cajado que ele segura florescer do que ele obter o perdão dos pecados, tanto no céu quanto na terra. Odiando a igreja, Tannhäuser volta à Alemanha e Isabel sobe aos céus, rogando a Deus que interceda por ele. Os trovadores voltam com a notícia de que o cajado do papa floresceu, simbolizando que um pecador obteve no céu o perdão que não obteve na terra.
“No fundo da alma de qualquer povo
 dormem, ignoradas, forças infinitas. 
Quem as souber despertar, moverá montanhas”
 - Gustavo Barroso 
CONCEPÇÕES DE ARTE NA OBRA-PENSAMENTO DE
RICHARD WAGNER
Sylmara Cintra Pereira
Márcio Pizarro Noronha
 
“Se tomarmos o conjunto das figuras shakespereanas, com toda
a impressionante riqueza de caracteres que ele contém, e o
compararmos ao conjunto semelhante dos motivos
beethovenianos em todo o seu poder de penetração e de contato,
veremos que cada um destes dois mundos coincide exatamente
com o outro, ou que cada um está contido no outro ainda que
pareçam mover-se em esferas absolutamente diferentes."
Richard Wagner
O compositor Richard Wagner foi um teórico, uma pensador,
das Artes. Em sua vida, Wagner se dedicou ao estudo filosófico para
a fundamentação de seu pensamento e de sua obra artística,
propondo através dos seus estudos a necessidade da junção das
artes, o Gesamtkunstwerk.
Gesamtkunstwerk, ou obra de arte total, é um termo da língua
alemã atribuído ao compositor alemão Richard Wagner e refere-se ao
ideal wagneriano de junção das artes – música, teatro, canto, dança
e artes plásticas. “Para esta junção era necessário que cada uma
destas artes se colocasse a mercê de uma idéia integradora, que
transpasse a própria individualidade de cada arte” (PEREIRA, 1995, p.7).
 
O ideal que domina a estrutura formal da obra de arte de
Wagner é a unidade absoluta entre drama e música, considerados
como expressões interligadas de uma única idéia dramática – ao
contrário do que sucede na ópera convencional, onde o canto
predomina e o libreto é um mero suporte da música. O poema, a
concepção dos cenários, a encenação, a ação e a música são
encaradas como aspectos de uma estrutura total, ou
Gesamtkunstwerk. Wagner assim se tornou o maior representante da
ópera romântica alemã, ao criar o drama musical, um novo modelo
de ópera. (GROUT; PALISCA, 1997, p.646).
CASNOK; NETO (2003), afirmam que a concepção da obra de
arte total ou plurissensorial não é uma abstração. Ela teve lugar em
vários momentos da história das artes, fazendo-se presente também
na contemporaneidade, suscitando novas produções e discussões
sobre a integralização das artes, justificando-se assim uma análise
das relações interartes.
Wagner considerava que as duas alternativas que se ofereciam
à arte de seu tempo eram ambas estéreis. De um lado, uma arte
“monumental” profundamente arraigada ao passado sem poder
desvencilhar-se dele. “Uma arte que se condenava à repetição e a
uma imitação estéril das realizações artísticas anteriores”. De outro
lado, a arte como “moda”, como uma reação do novo ao
monumental, mas que, no entanto, não atingia profundidade alguma
e se apresentava como um modo frívolo e efêmero de atividade
artística. (MACEDO, 2006, p. 72)
Segundo Macedo, a partir de uma reação a essa dupla
esterilidade de seu tempo, Wagner imagina compreender o papel da
arte grega no que diz respeito à revitalização da cultura moderna e,
nesse sentindo, busca esclarecer o lugar e o objetivo de sua atividade
artística. Com essa perspectiva, Wagner analisa em, Uma
Comunicação a Meus Amigos, toda sua produção até então.
Ainda segundo Macedo, Wagner coloca sua obra em discussão,
ou seja, ele próprio passa a questionar-se sobre a possível coerência
ente as idéias que defende para uma arte do futuro e o que
apresenta efetivamente em sua obras musicais e dramatúrgicas.
Pode-se resumir em quatro aspectos a reflexão de Richard Wagner
nesse ensaio: a proposta de arte wagneriana como alternativa ao
monumental e à moda, a justificativa e a discussão acerca do
cristianismo, o confronto com a modernidade e o papel fundamental
do temas míticos nas realizações artísticas. E, tanto nesse ensaio com
nos outros textos, a discussão tem como meta uma recuperação da
arte no sentido da essencialidade com a qual era vivida na Grécia
trágica.
A questão da decadência artística da modernidade
estava correlacionada, para Wagner, à questão geral da
decadência humana. Na nobreza do estilo grego, Wagner, via
a possibilidade de transformação da vida moderna, de
recuperação da realidade sensível e da atividade artística no
sentido da instauração de um mundo mais fecundo, mais
contente de si mesmo, mais pleno de sentido. (MACEDO,
2006, p. 50).
Toda a reflexão wagneriana sobre a arte está
associada a uma apreciação de cultura grega e a uma crítica
à cultura operística que vigorava na Europa desde os séculos
XVI e XVII. Para não cair no risco de uma caricatura da
tragédia, a proposta wagneriana era a de investigar as
condições gerais da criação do drama grego, conhecer os
fatores e circunstâncias que o possibilitaram não para tentar
repeti-lo e restaurá-lo, mas para, a partir do conhecimento
dessas condições propor uma nova obra de arte. A obra de
arte do futuro que embora, inspirada na cultura grega não
era, em seu sentido estrito, uma repetição, uma restauração
copiada da tragédia. (MACEDO, 2006, p. 51)
“Músico nenhum leu ou escreveu mais que Richard
Wagner.” (Lloyd-Jones, 1986)
MILLINGTON (1995) nos relata que Wagner é uma figura ímpar
na história da música, no que se refere aos seus conhecimentos de
literatura, tanto das eras passadas quanto de seu próprio tempo.
Quando adolescente Wagner absorveu as obras dos clássicos alemães
e de Shakespeare1, que teve uma influência2 significativa na vida de
Wagner, bem como o mundo fascinante dos romances, mantendo
uma ligação estreita com os escritores conhecidos como Jovem
1 Vários filósofos e artistas românticos também tomaram Shakespeare para si, num
entendimento de sua obra como sendo de uma função totalizadora e integradora de
todos os sentidos, visando ainda atingir os sentimentos de todas as pessoas, sem
qualquer critério de distinção social.
2 Shakespeare influenciou não somente a Wagner, mas teve influência sobre a
própria literatura alemã. O dramaturgo inglês era encarado por muitos como um
libertador, uma autor mais próximo do espírito alemão; assim o consideravam
Wagner e Goethe. (MILLIGTON, 1995).
Alemanha e partilhando das suas idéias; penetrou também nas
sombras do pessimismo de Schopenhauer e endossou a crítica de
Nietzsche aos valores culturais3.
Suas bibliotecas não eram mera ostentação, mas sim
testemunho de um desejo notável de acompanhar as
evoluções literárias e filosóficas; e os diários de Cosima
Wagner registram muitas noites de discussões e leituras.
(MILLINGTON, 1995, p. 66).
Inegavelmente, Shakespeare teve grande influência e
importância para a Alemanha. Em Beethoven4, Wagner compara
Shakespeare ao autor da Sinfonia Heróica. Segundo Wagner, os
mundos shakespearianos e beethovenianos coincidem um com o
outro, estando cada um, contido no outro, apesar de diferentes.
(MONIZ, 2007, p. 52)
ROSENFELD; GUINSBURG (2005) apontam que Shakespeare
será o grande o grande inspirador da literatura romântica, em
particular, mas também da pintura e da música do Romantismo.
Segundo os autores, é só pensar em Delacroix, Chassérieu ou em
Mendelssohn e Berlioz, que traduziram em composições plásticas ou
musicais sua atração pela temática shakesperiana.
O mestre inglês constitui-se realmente numa espécie
de paradigma romântica ou, pelo menos, no foco reconhecido
dos elementos de uma nova visão estética. Nela, a obra vale
enquanto, verdadeira e espontânea, expressão imediata e
não raciocinada da alma do poeta. (ROSENFELD;
GUINSBURG, 2005, p. 268)
Com a sua proposta de um Gesamtkunstwerk, Wagner,
pretendia ser, ao mesmo tempo, um Shakespeare e um Beethoven.
“Tornaria o som visível e a luz audível. Unindo o som e a luz, o
invisível e o visível, o sujeito e o objeto; criaria um drama mais
elevado” (ROSENFELD; GUINSBURG, 2005, p. 53).
Desde cedo, Wagner vinha demonstrando interesse por mitos e
antigas lendas européias da Idade Média. Seu interesse pelos mitos
germânicos começou a surgir por volta dos 30 anos, quando se
encontra de férias na cidade de Toeplits.
O contato com os gregos foi de suma importância no
desenvolvimento de suas óperas:
A Odisséia o inspirou a criar o Navio Fantasma e
Tannhäuser, o mito de Sêmele, a mãe de Dionísio, foi crucial
na composição de Lohengrin; e As Rãs, Aristófanes, acabou
por dar ocasião a Os Mestres Cantores de Nuremberg;
demonstrando que Wagner já conhecia bem a mitologia
greco-romana (MONIZ, 2007, p. 60).
Depois disso, retomou o seu estudo sobre os mitos germânicos,
lendo a obra de Grimm e outras obras interessantes, tais como A
Canção dos Nibelungos. Suas buscas e pesquisas acabaram
direcionando o seu olhar para os países nórdicos, o que o colocou em
contato com os épicos da Escandinávia.
A partir de então, Wagner dominaria a mitologia nórdica como
ninguém. Sua obra-prima O Anel dos Nibelungos, já começava a
tomar forma em sua mente. Com esse grandioso passo, ele começou
a caminhar em direção ao porto de salvação em que se refugiaria
para evitar a mediocridade da ópera e do teatro moderno (MONIZ,
2007, p. 62).
Richard Wagner sempre foi amante dos mitos, em especial do
mitos nórdicos. Ele procurou em sua obra, principalmente em O Anel
dos Nibelungos, resgatar as raízes germânicas, contaminando tanto
pelo nacionalismo quanto pelo Romantismo, que envolviam em sua
época não só a Alemanha, mas praticamente toda a Europa. (MONIZ,
2007, p. 43)
ROSENFELD; GUINSBURG (2005) apontam que, a grande
preocupação e fascínio do Romantismo é a revalorização do mito.
É no mito que a alma romântica tenta condensar-se,
achar a síntese, como se verifica, por exemplo, na música de
Wagner, com o Anel dos Nibelungos, Tristão e Isolda,
Parsifal, obras que se propõem como fim precípuo criar, em
termos de uma nova arte, grandes sínteses míticas
(ROSENFELD; GUINSBURG in GUINSBURG, 2005, p. 281).
No Gesamtkunstwerk, os mitos são um assunto ideal, não
somente porque eles divertem, mas também porque são significativos
ou simbólicos. O significado do mito é expresso em poesia, mas é
inevitavelmente levado para a canção, pois somente a música é
capaz de transmitir a intensidade de sentimento ao qual as idéias do
poema dão origem (BENTLEY, 2000, p. 53).
Moniz (2007) afirma que própria origem da música perde-se
nos primórdios do mundo mítico:
In illo tempore5, após Zeus e seus irmãos vencerem
os Titãs numa guerra pela hegemonia do Universo,
resolveram reparti-lo entre si. Ao deus do raio e do trovão,
segundo uma variante, couberam os céus; a Posídon, os
mares; e a Hades, o mundo dos mortos, sendo que a Terra
ficaria como possessão simultânea dos três. Para celebrar
essa retumbante vitória, os deuses pediram a Zeus que
criasse divindades capazes de celebrar, por meio do canto,
esse monumental ato. O senhor do Olimpo, então, unindo-se
a Mnemósina6, gerou, depois de nove noites consecutivas de
amor, as nove Musas7 (Moniz, 2007, p. 19).
O mito e a música, que surgiram juntamente com a linguagem,
possuem a mesma origem:
Música e mito estão intrinsecamente unidos, já que
são constituídos da mesma matéria original, podem ser
desenvolvidos juntos, sem uma descaracterização de suas
essências, como é o caso das tragédias e dos dramas
wagnerianos (MONIZ,2007, p. 43).
5 Expressão latina, que designa um tempo extremamente remoto, é muito utilizada em mitologia e significa “naquele tempo”.
6 Significa lembrar-se de; é a personificação da memória.
7 Significa aprender. Segundo Junito Brandão,
 fixa “o espírito sobre uma idéia, uma
arte”, acabando por originar a palavra música,
 que por sua vez significa “o que
concerne às Musas”
“O mito traz em sua essência a verdade sobre a vida,
observada sob todos os prismas possíveis dos povos
primitivos” (MONIZ, p. 48).
As leis, a história, as crenças e os valores, enfim, a
idiossincrasia das civilizações primitivas estava contida no mito. E a
tragédia foi a forma de expressão que mais soube descrever tal fato.
Os mitos falam dos grandes acontecimentos, das lutas dos homens
para superar as dificuldades, tanto no seu aspecto interno, quanto
externo. O mito é trágico por excelência, e segundo Moniz, serviu
como argila para essas grandes esculturas denominadas tragédias.
“Wagner, antes e acima de tudo, é um homem de teatro” (BENTLEY, 1991, p. 79).
 
Wagner considerava o drama a mais elevada das artes, ele o
amava. Mas percebendo que o drama falado parecia destinando à
extinção, resolveu investir na ópera, porém, acrescentando a mesma
engenhosidade teatral e dignidade trágica, já que esta também, em
sua opinião, se encontrava em decadência. (MONIZ, 2007, p. 48)
“O teatro dramático seria capaz de fazer melhor o que
a ópera não conseguiria, juntando tudo em uma mistura
gloriosa” (BENTLEY, 1991, p. 111).
As antigas lendas européias da Idade Média e os mitos, desde
cedo, foram atraentes a Wagner. Na criação da saga mítica de O Anel
dos Nibelungos, Wagner se baseou nos livros Mitologia Germânica,
Eddas e A Canção dos Nibelungos.
Além da influência literária exercida da literatura grega8, a qual
ele veio conhecer na escola, dos mitos e das antigas lendas
8 Em sua trajetória artística e intelectual, Wagner acrescentou muitas reflexões ao debate sobre o papel da cultura grega na história da arte e sobre as perspectivas que esta cultura poderia apresentar para uma transformação dos costumes e valores modernos. Sua contribuição é decisiva não apenas como pensador e artista,mas como alguém que imaginava ser possível colocar em prática suas idéias. Isto é, promover um a interpretação da Grécia vinculada a um projeto de efetiva européias, Wagner também foi influenciado pelos textos dos românticos alemães e, em particular os contos de E.T.A. Hoffmann, Ludwig Tieck e Friedrich Schlegel. Outra influência importante foi a do tio Adolf Wagner.
“Adolf Wagner não era apenas um especialista em
Shakespeare e nos gregos: estava impregnado dos textos
românticos e fora companheiro de E.T.A. Hoffmann”
(MILLINGTON, 1995, p. 67).
Wagner foi chamado de o beneficiário mais favorecido do
romantismo alemão, e reagia com entusiasmo ao mundo dos
espíritos, medievalismo, figuras artísticas e marginais, que esse
movimento se comprazia em retratar.
O Romantismo na Alemanha durou cerca de 30 anos,
e Wagner o absorveu como nenhum outro músico. Hoffmann,
Tieck e Fouqué o impressionaram profundamente, sendo
Hoffmann uma influência poderosíssima. (MILLINGTON,
1995, p. 67).
Tiveram grande importância no gosto literário do então
adolescente Wagner, Ludwig Geyer e Adolf Wagner. “As ambições e
os talentos teatrais de Geyer deram ao jovem adolescente
consciência da grandeza dos autores clássicos alemães, e acima de
tudo Goethe”. Wagner cresceu cercado pelo teatro, tendo vários
colegas ligados, de uma maneira ou de outra, ao palco. Pôde ver em
cena as peças de Shakespeare, dramaturgo cuja influência sobre a
literatura alemã não há como exagerarrepercussão social. Nesse sentido, a ligação de Wagner com os gregos se insere no contexto com a modernidade. Não se trata em momento algum, para ele, de entender a Grécia de uma forma isolada e limitada exclusivamente aos aspectos artísticos. 
Sua reflexão avança no sentido de uma compreensão do homem grego na integridade de suas relações sócias, políticas religiosas e na efetividade de sua existência. (MACEDO, 2006)
MACEDO (2006) relata que há registros literários de Wagner
desde 18349 quando este começou a carreira como diretor de coros.
Entre 1839 e 1842, Wagner havia abandonado a carreira de humilde
funcionário musical na Alemanha pra fazer carreira como artista em
Paris. Não teve êxito, mas, como um dos seus meios de subsistência,
colaborou com jornais musicais em troca de algum dinheiro. Os
artigos eram escritos em alemão e vertidos para o francês por um
tradutor. De época, destacam-se particularmente dois escritos: Uma
Peregrinação a Beethoven e O Fim de Um Músico Estrangeiro em
Paris.
Entre 1849 e 1851, no início do exílio em Zurique, acontece
então o período decisivo do pensamento de Wagner com os seus
principais escritos estéticos: A Arte e A Revolução; A Obra de Arte do
Futuro; Ópera e Drama e Uma Comunidade a Meus Amigos.
“Os textos de Wagner em Zurique eram originalmente
inspirados pelo desejo de reformar a cultura alemã e retornar às
entidades míticas da Antiguidade Grega” (MILLINGTON, 1995, p. 68).
Quanto a relação de Wagner com a Filosofia, Bornheim em seu
ensaio sobre o Romantismo e a filosofia nos mostra que O
Romantismo alemão é o único que se estrutura como movimento,
conscientemente, a partir a partir de uma posição filosófica, o que vai
garantir à filosofia um destaque singular dentro do panorama
romântico geral. E não apenas um ponto de partida, mas a evolução
do movimento, na Alemanha, obedece sempre, primeiramente, a
novas exigências de ordem filosófica. Esta presença do pensamento
filosófico é uma das características distintivas do Romantismo
alemão.
9 De acordo com a série “The New Grove”, em 1º de setembro de 1837, Wagner
estreou simultaneamente como regente e compositor com a apresentação da ópera
cômica Mary, Max und Michel, Carl Blum, para qual escreveu uma ária adicional
para baixo (WWW. 43).
Esta presença do pensamento filosófico no Romantismo alemão
também se faz presente na vida de Richard Wagner.
MACEDO (2005) afirma que quanto às referências filosóficas,
Wagner sempre buscou10 uma fundamentação neste campo para sua
arte, sendo o compositor uma junção entre o pensador e o artista.
Poucos artistas na história da música tiveram uma influência
tão relevante sobre a cultura do seu tempo como Richard Wagner.
Além de músico e dramaturgo, Wagner tornou-se um pensador ativo
e inquieto, vivamente motivado a tentar agir sobre a consciência de
seus contemporâneos. Para Macedo, é com devida propriedade que
se pode chamá-lo de um músico-filósofo ou de um artista-filósofo ou
ainda de um artista-político. (MACEDO, 2005, p. 21)
“O fato de buscar uma fundamentação filosófica para
sua arte faz de Wagner uma figura singular. Ele não é nem
puro pensador nem puro artista, mas uma junção dessas
duas forças11 (MACEDO, 2006, p. 25).
A busca de Wagner por uma fundamentação filosófica para sua
arte levou o filósofo Heidegger, em seu livro sobre Nietzsche, a situar
o pensamento do compositor como um dos seis fatos fundamentais
da história da estética.12
10 A partir de 1842-43, depois de uma temporada de muitas incertezas em Paris,
ele se instala definitivamente em Dresden, como chefe de orquestra, começa a
formar uma biblioteca particular e dedica-se com disciplina ao estudo da mitologia
e dos clássicos gregos, além dos estudos mais particulares de filosofia. Neste
período dedica-se à leitura e à compreensão de A Filosofia da História, de Hegel.
Esse contato com obra de Hegel 
não pode ser subestimado para o entendimento do contexto
sobre o qual se inserem as reflexões wagnerianas
 sobre a arte sobre os  gregos.
11 Segundo Iracema Macedo, além da relação com Nietzsche, dois outros
pensadores são cruciais para se entender Wagner no contexto da filosofia:
Feurbach e Schopenhauer. Durante toda sua vida, em períodos marcantemente
diferentes, Wagner viu sua obra oscilar entre esse dois pensadores, ou seja, entre o
materialismo otimista de Feuerbach e o pessimismo místico de Schopenhauer.
12 Corroborando a importância de Wagner na história do pensamento ocidental,
Theodor Adorno dedicou um ensaio sobre a vida, a obra e o pensamento do
compositor. (MACEDO, 2006, p.24)
Wagner precisou em alguns momentos aliar-se às reflexões
filosóficas, quando este tentou inserir no campo teórico, uma reflexão
sobre gregos, como uma tentativa de resposta e de saída para uma
crise da arte na modernidade. Por esse motivo, segundo a autora,
não se pode falar da relação de Wagner com os gregos sem abordar
também sua aliança com a filosofia, com a atividade crítica e teórica
de um modo geral.
As referências literárias e filosóficas sofridas por Wagner, bem
como um descontentamento com o modelo da ópera13, e a rendição
da mesma ao mercado, fizeram-no idealizar o Gesamtkunstwerk.
Wagner foi um indivíduo que procurou, com a sua arte, mudar
as pessoas e o mundo. “O conhecimento adquirido ao longo do tempo
contribuiu para que se transformasse num dos homens mais
influentes da Alemanha do século XIX” (MONIZ, 2007, p. 110).
Wagner não era somente um músico, era muito mais
do que isso, ou melhor, era muito mais do que se esperava
de um músico. Wagner desenvolveu, alem de um trabalho
musical, escritos críticos, teóricos e filosóficos sobre música e arte.
 
13 Toda a reflexão wagneriana sobre a arte está associada a uma apreciação de
cultura grega e a uma crítica à cultura operística que vigorava na Europa desde os
séculos XVI e XVII. Para não cair no risco de uma caricatura da tragédia, a
proposta wagneriana era a de investigar as condições gerias da criação do drama
grego, conhecer os fatores e circunstâncias que o possibilitaram não para tentar
repeti-lo e restaurá-lo, mas para, a partir do conhecimento dessas condições propor
uma nova obra de arte.
 A obra de arte do futuro que embora,
 inspirada na cultura grega não era, em seu sentido estrito, 
uma repetição, uma restauração copiada da tragédia. 
(MACEDO, 2006)

3 O objetivo deste trabalho
 não é discutir a influência literária e filosófica na obra wagneriana,
 porém não poderíamos deixar de citá-la, 
por sua importância na formação intelectual
 do compositor e sua atuação significativa na obra do compositor.
 
4 Wagner alimentava 
uma profunda admiração por Beethoven,
 levando-o a escrever  um ensaio homônimo.

BIBLIOGRAFIA
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Enviado em 13/06/2011
 www.congressohistoriajatai.org/.../doc%20(77).pdf

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