A teoria do conhecimento fenomenológico na contemporaneidade.
Autor: Luciano Agra
Falar em fenomenologia trata-se de uma leitura bastante polissêmica, abrangente, contextual, epistemológica, e intertextualizada na concepção fenomenológica de Edmund Husserl, Robert Sokolowski, André Dartigues, Hans Gadamer, Danilo Marcondes, Martin Heidegger, e assim sucessivamente, ou seja, este conceito para estes autores mencionados acima, tornaram um exercício de compreensão para a filosofia transcendental.
A partir daí releva-se, assim, o campo positivo da aquisição da atitude fenomenológica, no sentido do fundamento de uma ciência do homem e para o homem, na abertura de suas possibilidades livres e responsavelmente determinadas para a construção da fenomenologia em torno de uma teoria do conhecimento pelo contexto histórico/filosófico.
O surgimento da fenomenologia, apontando as relações entre a perspectiva de Husserl, Sokolowski e outros. É interessante assinalar os autores fazem inúmeros relatos dos focos principais de suas obras de Husserl, destacando sua progressão, de uma crítica ao psicologismo à estruturação de uma atitude natural, atitude fenomenológica ou fenomenologia transcendental. Palavras - Chave: Fenomenologia - Teoria do conhecimento – Metafísica.
O que é a fenomenologia? Muitas perguntas, muitas respostas. A fenomenologia é o estudo da consciência e dos objetos da consciência. É neste contexto que a redução fenomenológica, é o processo pelo qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Assim, acredita-se que quando intencionamos as coisas, situações, fatos e quaisquer tipos de objetos como imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos eventos, memórias, sentimentos, e assim sucessivamente, que constituem nossas experiências de consciência, ou seja, é o modo como o conhecimento do mundo acontece, a visão do mundo que o indivíduo tem.
Como se vê, é certo que o método fenomenológico se define como uma volta às coisas mesmas, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como objeto intencional. Para esclarecer, Danilo Marcondes analisa em seu texto "Os Herdeiros da Modernidade" que " O lema básico da fenomenologia é "de volta às coisas mesmas", procurando com isso a superação da oposição entre realismo e idealismo, entre o sujeito e o objeto, a consciência e o mundo." ( MARCONDES, 2004, p. 257 – 258).
A Fenomenologia é uma corrente filosófica que concebe ao pensamento a certeza de reter só o essencial do fenômeno em questão, e o método fenomenológico é aquele que oferece uma técnica de busca da essência dos fenômenos. Apesar da fenomenologia estar caracterizada como uma filosofia essencialista a sua finalidade era a de ser uma solução objetiva para todo o subjetivismo intelectual em voga na época de sua idealização. O seu precursor, Edmund Husserl, objetivava criar uma corrente filosófica que desse uma base sólida para a filosofia e para as ciências, sendo uma solução definitiva para o caos intelectual do final do século XIX e do início do XX.
Vale salientar que a fenomenologia para Husserl almeja o estudo das essências, isto é, respondo-as na existência, pois ela não existe independente do objeto sendo invariável. A mesma é a ciência das essências, que são maneiras que relatam o fenômeno, por isso, não é adquirida da comparação e da abstração dos objetos em si. Com isso, é necessário ao retorno da coisa mesma, que busca filosofar seguindo os problemas que estão na vivência da consciência prescindido o mundo exterior e às discussões feitas por outros teóricos, essas teorias podem ser de grande ajudas para se chegar aos fenômenos, ou seja, a coisa mesma.
No âmbito da história da filosofia, o termo fenomenologia é muito anterior a Husserl e transita na obra de grandes pensadores. Martin Heidegger (2005a) em a "Introduction to phenomenological research: Indiana" coloca que:
A expressão 'fenomenologia' aparece pela primeira vez no século XVIII na escola de Christian Wolff, no Neues Oragnon de Lambert, diretamente ligada à desenvolvimentos análogos populares naquela época, tais como dianologia e alethiologia, e significava a própria teoria da ilusão, uma doutrina para evitar as ilusões. Algo parecido aparece em Kant. Em uma carta à Johann Heinrich Lambert, ele escreve: 'Isso (a fenomenologia) aparece de um modo bastante particular, como uma disciplina propedêutica que deve preceder a metafísica, onde os valores e limites do principio da sensibilidade são determinados.' Mais tarde, 'fenomenologia' é título da maior obra de Hegel. (...) 'Fenomenologia' aparece também nas conferencias de Franz Bretano acerca da metafísica." (HEIDEGGER, 2005a.:3)
Neste fragmento acima, podemos perceber que todo caminho traçado pelo sentido da expressão não rejeitava o passado ao dar um passo à frente. É evidente que desde o tempo em que foi apresentado o termo fenomenologia, suas conceituações se transformaram sem descarte. Trata-se de uma maneira de pensar que procura tanto evitar as ilusões quanto driblar a superficialidade da metafísica em relação à compreensão do saber pelos sentidos. Desta forma, ao propor seu conceito de fenomenologia, Edmund Husserl o apresenta como um contraponto à crise das ciências modernas, a saber, o naturalismo e o psicologismo puramente empirista emergente na época, que desejava ser à base de todas as ciências humanas.
A fenomenologia husserliana difere das constituídas por Kant e Hegel, de modo estrutural, isto é, no que diz respeito à própria questão do ser ou, ainda, em relação a uma teoria do ser absoluto ou ontologia. Diante disto, em seu livro "O que é a fenomenologia?" André Dartigues (1992) coloca o seguinte:
Se, no entanto, compararmos Husserl a Kant e a Hegel, com os quais seria permitido aproximá-lo quanto aos vários pontos particulares, podemos notar que, com respeito ao problema ontológico, sua tentativa representa algo como uma terceira via: enquanto a fenomenologia de tipo kantiana concebe o ser como o que limita a pretensão do fenômeno ao mesmo tempo em que ele próprio permanece fora de alcance, enquanto inversamente, na fenomenologia hegeliana, o fenômeno é reabsorvido num conhecimento sistemático do ser, a fenomenologia husserliana se propõe como fazendo ela própria, as vezes, de ontologia pois, segundo Husserl, o sentido do ser e o fenômeno não podem ser dissociados.
Husserl procura substituir uma fenomenologia limitada por uma ontologia impossível e outra que absorve e ultrapassa a fenomenologia por uma fenomenologia que dispenda a ontologia como disciplina distinta, que seja, pois, a sua maneira, ontologia - ciência do ser. (DARTIGUES, 1992, p.4)
O fenômeno, portanto, segundo Hegel, citado por Dartigues, é reabsorvido num conhecimento sistemático do Ser. Em sua introdução, Dartigues reporta-se como Kant, Hegel e Husserl concebem o fenômeno. Em primeiro lugar Kant concebe o Ser como o que limita a pretensão do fenômeno, e ao mesmo tempo em que ele próprio permanece fora do alcance. No segundo lugar Hegel enfoca que a fenomenologia é uma filosofia do absoluto ou do espírito enquanto que o fenômeno é reabsorvido num conhecimento sistemático do Ser, e por fim Husserl propõe-se como fazendo ela própria (a fenomenologia) de Ontologia, pois o sentido do Ser e do fenômeno não podem Ser dissociados.
Com isso, a base da idéia da fenomenologia de Husserl é o próprio afronte à tradição metafísica, ou seja, a contraria a separação estrutural das coisas do mundo, da consciência, do espírito e do saber em sujeito e objeto. Em outras palavras, Husserl motivado pela inquietude da insatisfação com a superficialidade das ciências modernas e a tradição metafísica, que há tempos fechava-se em construções teóricas e interpretações antecipadas, propõe seu método investigativo pautado na extinção do dualismo tradicional que cristaliza e segmenta os entes como coisas e o ser destes como um ente também. No caso, tudo passa a ser estratificado para objetificar, para ser capaz de conhecer e, dessa forma, teorizar para saber, separando o ser do ente e, conseqüentemente, o fenômeno ele mesmo de seu sentido/essência primordial.
Para Robert Sokolowski (2004), esta atividade de dar conta é o significado do termo fenomenologia. Esta atividade de dar conta proporciona um logos, de vários fenômenos e dos vários modos em que as coisas podem aparecer. Podemos explorar todos os fenômenos, quando percebemos a intencionalidade de nossa consciência em direção ao fenômeno. Analisando o que nos revela o autor entendemos que a fenomenologia se preocupa tão somente com o fato isolado, puro, desprezando as bases cognitivas do sujeito, mas também como seu processo histórico e seus valores culturais. Robert Sokolowski (2004) nos traz que a analise fenomenológica parte da intencionalidade.
A Fenomenologia afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos, tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação". Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema).
A Fenomenologia representou uma reação à pretensão dos cientistas de eliminar a metafísica. É interessante assinalar que Robert Sokolowski (2004) em seu texto " Introdução à Fenomenologia: Uma Declaração inicial do que é a fenomenologia", dizendo o seguinte:
O termo "noema" se refere aos correlatos objetivos das intencionalidades; refere-se a tudo o que é intencionado pelas intenções de nossa atitude natural: um objeto material, um retrato, uma palavra, uma entidade matemática, outra pessoa. Porém, mais especificamente, refere-se a tais correlatos objetivos precisamente como sendo vistos desde a atitude transcendental. Refere-se a eles como tendo sido postos entre colchetes pela redução transcendental-fenomenológica. [...] O uso do termo "noema" é sinal de que estamos na fenomenologia, no discurso filosófico, e de que as coisas que estão sendo ditas estão sendo debatidas a partir de um ponto de vista filosófico, não de um ponto de vista da atitude natural. ( SOKOLOWSKI, 2004, p. 68)
Nesse modo de conceber a realidade, vemos a coexistência de aspectos subjetivos e objetivos. Noesis, que se refere ao aspecto subjetivo, é a atividade da consciência na experiência vivida e a atividade intelectual da interpretação e comunicação. Noema, que se refere ao objetivo, é o produto da vivência, não é o próprio objeto, mas o complexo de predicados dele. Assim, a descrição, a mais fiel possível da realidade percebida, requer uma reflexão sobre o vivido, o realizado. Requer um movimento que parte do Noema para o Noesis, isto é, requer dar um passo atrás e olhar a experiência vivida, para perceber como e por que vimos o que vimos. Na busca da crítica do conhecimento, transcendemos a própria experiência que o possibilitou. Esse é o sentido de transcendência da Fenomenologia.
Os objetos da fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema). Noema significa a impossibilidade de acesso ao mundo tal qual ele é. Mas significa também a possibilidade de conhecer esse mundo de um modo pessoal. Operando sobre o noema, transcendendo-o, construindo representações, comunicando-as, submetendo-as a diferentes interlocutores, seria possível construir uma certeza compartilhada. Nesse domínio das trocas entre pessoas que se comunicam, realizar a objetividade.
Todavia, Fenomenologia afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação". Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema).
A Fenomenologia representou uma reação à pretensão dos cientistas de eliminar a metafísica ela não pode ser confundida com o Fenomenalismo. Para Sokolowski o termo intenção é a relação da consciência que nós temos para com o objeto. Ainda ele também nos traz que para entendermos a fenomenologia devemos fazer uma distinção entre duas atitudes ou perspectivas, a atitude natural e a atitude fenomenológica. Sobre a atitude natural, Robert Sokolowski (2004) em seu texto " Introdução à Fenomenologia – Uma Declaração inicial do que é a fenomenologia", argumenta que:
A fim de compreender o que é a fenomenologia, devemos fazer uma distinção entre duas atitudes ou perspectivas que podemos adotar. Devemos distinguir a atitude natural da atitude fenomenológica. A atitude natural é o foco que temos quando estamos imersos em nossa postura original, orientada para o mundo, quando intencionamos coisas, situações, fatos e quaisquer outros tipos de objetos. [...] A atitude fenomenológica, por outro lado, é o foco que temos quando refletimos sobre a atitude natural e todas as intencionalidades que ocorrem dentro dela. É dentro de atitude fenomenológica que levamos a cabo as análises filosóficas. A atitude fenomenológica é também algumas vezes chamada de atitude transcendental. (SOKOLOWSKI, 2004, p. 51)
Nessa visada, a tarefa da Fenomenologia Transcendental seria justamente a de preparar o terreno para o aparecimento de uma compreensão mais apurada dos atos intencionais que constituem a consciência, e isto de tal modo a se poder instituir um conhecimento filosófico independente do conhecimento produzido pelas ciências da natureza. Trata-se, no caso, de um projeto transcendental capaz de validar uma autêntica ciência filosófica, ciência ocupada com a "crítica da própria consciência", que se impõe a tarefa de esclarecer cada vez mais e melhor a própria consciência dos objetos na sua constituição fenomenal. Segundo Husserl, a chamada redução fenomenológica proporciona o acesso ao "modo de consideração transcendental", ou seja, o "retorno à consciência".
Assim, através da "redução fenomenológica" os objetos se revelam na sua constituição. Retornando à consciência, os objetos aparecem na sua constituição, ou seja, como correlatos da consciência. O retorno, portanto, permite dissolver o ser na consciência, isto é, permite que o ser se torne consciência
No caso, esse retorno pressupõe a redução fenomenológica. Trata-se, portanto, de um pôr-se no caminho das próprias coisas, isto é, de "retornar" a elas. Neste sentido, a "redução" se confundiria com o próprio método fenomenológico, pois seria um "caminho" para se alcançar e clarificar filosoficamente a essência universal do conhecimento absoluto. Entretanto, na "atitude fenomenológica" a "atitude natural" é posta em questão, o que significa o exercício crítico do próprio conhecimento.
Assim, uma das grandes tarefas da "redução fenomenológica" é a superação do próprio horizonte do "conhecimento natural", o que implica no aparecimento de complexas tensões e obscuros problemas gnosiológicos.
É interessante notar que a concepção de intencionalidade de Husserl é entendida como um modo de estabelecer a relação entre subjetividade e objetividade. A primeira é vista como atos transcendentais, no entanto, a segunda refere-se aos objetos ideais. Esse entendimento se respalda, tendo como ponto de partida fundamentação da gnosiologia, na qual não seria possível sem o entendimento do que seria a idéia de lógica pura.
É evidente que a atitude filosófica, por outro lado, refere-se a uma meta-perspectiva, uma atitude que é a atitude natural em que nos encontramos é comumente despreendida e uma reflexiva são assumidas a partir do qual a atitude natural e tudo nele, incluindo a sua crença no mundo subjacente, são refletidas. Assim, acredita-se que é dentro da atividade filosófica que habita a fenomenologia.
É preciso lembrar ainda que é através da adoção de uma atitude filosófica, que a fenomenologia tornou-se uma ciência verdade dos estudos. Vale ressaltar que é preciso um passo para trás com a intervenção racional da atitude natural.
É nesse ponto que a fenomenologia, ao que parece, tem como foco as percepções subjetivas e realidades internas de indivíduos e mantém a hipótese de que uma experiência particular é melhor contada e entendida do quadro de referencia do indivíduo experimental
Ressalte-se, ainda, que a fenomenologia, entende-se por fenômeno o mesmo que vivência intencional, mas o modo como são vividos. Isto significa dizer que não se trata, pois, de descrever objetos de uma consciência intencional, mas as vivências que suportam o objeto assim intencionado.
Note-se, em terceiro lugar, que descrever as vivências intencionais é torná-las explícitas, temas da atenção de uma consciência, ao contrário do que sucede na atitude natural em que "passam" de forma inapercebida. Por isso, distingue-se uma atitude fenomenológica de uma atitude natural.
Por fim, passar desta áquela atitude é o trabalho da reflexão em sentido fenomenológico e todas as intencionalidades que ocorrem dentro dela, não é o mesmo que introspecção; antes consiste em tomar um ato de consciência, um ato intencional, como tema de um outro ato de consciência que, dessa maneira, o conseguem visar. Sobre a nossa postura original entendemos que todo o conteúdo que temos de alguma coisa naturalmente, podem ser considerados de atividades naturais. Para o Robert Sokolowski as atitudes fenomenológicas partem das atitudes naturais. Robert Sokolowski (2004) pontua:
A volta à atitude fenomenológica é chamada de redução fenomenológica, um termo que significa a "retirada" dos alvos naturais de nosso interesse, "em direção" ao que parece ser mais um ponto de vista restritivo, simplesmente um daqueles alvos das intencionalidades mesmas. (SOKOLOWSKI, 2004, p.58)
Desse modo, pode-se dizer que a redução fenomenológica é o estudo da consciência e dos objetos da consciência. Como já se disse, a redução fenomenológica é o processo pelo qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo, tomando, por exemplo, coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos eventos, memórias, sentimentos, e assim sucessivamente, que a constituem nossas experiências de consciência.
Por outro lado, as reduções, através da "epoché" visavam basicamente à mudança de atitude fenomenológica, contudo, é um movimento do tipo "tudo ou nada" que se liberta completamente da atitude natural e se fixa, de um modo reflexivo, em tudo da atitude natural, incluindo a subjacente crença no mundo, ou seja, percorrer para atitude fenomenológica não é tornar-se um especialista em uma forma de conhecimento ou outro, e sim, tornar-se um filósofo. A epoché na fenomenologia é simplesmente a neutralização das intenções naturais que deve ocorrer quanto contemplamos essas intenções.
Compartilha-se a afirmação de que a atitude natural, onde vivemos espontaneamente e consideramos os objetos como exteriores à consciência, existentes em si, deve transformar-se, pelas reduções, numa atitude transcendental para a qual a realidade exterior, dos objetos era colocada entre parênteses, pela suspensão do juízo sobre sua existência real, sendo, então, estes objetos considerados como meramente significados dos objetos intencionados. Considerando este horizonte de sentido, que Hans - Georg Gadamer em seu texto " 2. Fenomenologia, hermenêutica e metafísica (1983) analisa que:
Para tais verdades essenciais, Husserl valeu-se do termo evidencia, denominado uma tal configuração essencial do objeto o objeto intencionado, isto é, aquilo que é visado enquanto tal pela consciência e por seu ato intencional. Fenômenos são tais "dados essenciais", cuja descrição a partir da intencionalidade da consciência é ao mesmo tempo a sua única justificação possível. Hesserl acreditava poder constituir dessa maneira aquilo que é fenomenologicamente sustentável nas grandes realizações de pensamento da história da filosofia. Assim, ele viu no caráter contínuo dos sombreamentos, nos quais um objeto da percepção "aparece", o sentido fenomenológico da "coisa em si". (GADAMER, 2007, p. 31 – 32)
Em suma, a concepção do senso comum é chamada por Husserl de atitude natural. Compreender a atitude natural à consciência (ingênua) vê os objetos como sendo exteriores e reais. Nessa linha do pensamento, afirma-se com convicção que a atitude natural Husserl opõe a atitude fenomenológica, segundo a qual o mundo é simplesmente o que ele é para a consciência, ou seja, fenômeno. Verifica-se então que se, por um lado, a atitude fenomenológica não nega o mundo, apenas não se preocupa com que ele seja real.
Daí poder-se dizer que a redução fenomenológica ou transcendental é também chamada de epoqué, palavra que significava "suspensão do julgamento" na filosofia grega. Levando-se em conta que o que está sendo referido no conceito da redução fenomenológica é o método básico da investigação fenomenológica, tal como Husserl o desenvolveu, tendo trabalhado nele durante toda sua carreira. Assim, podemos perceber que Husserl desenvolveu dois modos de redução que são o ontológico e o cartesiano.
Pode-se vislumbrar, portanto, que na redução fenomenológica, suspendemos nossas crenças na tradição e nas ciências, com tudo que possam ter de importante, que são colocados entre parêntesis, juntamente com quaisquer concepções, e também todas as crenças acerca da existência externa dos objetos da consciência. É importante destacar que o mundo natural não fica negado, nem se duvida de sua existência.
Destacamos também que a redução fenomenológica não se compara nem com a dúvida cartesiana, nem com a negação da realidade.
Evidencia-se que a fenomenologia surge como uma tentativa de reconciliar homem e mundo, pois uma cisão entre ambos não entende a íntima relação entre historicidade, natureza e ego. Deste modo o novo modo de conceber noções filosóficas de sujeito, objeto e também a de transcendental, fazendo com que delas brote aquilo que há de mais bruto, no sentido daquilo que se acha intocado, inalterado, que está como existe na natureza, enfim, é o que se conhece como o ir às coisas mesmas da fenomenologia. A fenomenologia tem por idéia fundamental, básica, a intencionalidade da consciência, entendida como a direção da consciência para compreender o mundo. Mediante a intencionalidade da consciência todos os atos, gestos, hábitos e qualquer ação humana têm um significado.
Nota-se que a descrição fenomenológica é o momento resultante da relação dos sujeitos pesquisados com o pesquisador. Isto significa dizer que deve retratar e expressar a experiência consciente do sujeito. É importante perceber que a redução fenomenológica é o momento em que são captadas as partes da descrição que são consideradas essenciais e aquelas que não são, por meio da variação imaginativa, ou seja, a compreensão e a interpretação fenomenológica trata-se de interpretar o que foi descrito, de descobrir o sentido da existência.
Portanto, Gadamer em seu texto " 2. Fenomenologia, hermenêutica e metafísica (1983) aponta que " a fenomenologia é incontestável umas das correntes essenciais na filosofia do século XX".(GADAMER, 2007, p. 29), e ainda Gadamer coloca que "Husserl, o fundador do movimento fenomenológico, ajudou uma vez mais o apriorismo clássico da tradição idealista a alcançar uma vitória, ao pôr um termo na invasão da filosofia por elementos alheios oriundos da psicologia orientada pela ciência natural." (GADAMER, 2007, p. 29)
Fonte:
Autor: Luciano Agra
Autor: Luciano Agra
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