Como conclusão
– no extremo da radicalidade: a conditio humana revisitada
É fundamental ressaltar que “a ética, para Levinas, não é um bem soberano nem um dado imediato da consciência, nem a lei imposta por Deus aos homens, nem a manifestação, em cada homem, de sua autonomia: a ética é, em primeiro lugar, um acontecimento. É necessário que algo ocorra ao Eu para que deixe de ser uma ‘força que discorre’ e descubra o escrúpulo.
Este golpe de efeito é o encontro com o outro homem ou, mais exatamente, a revelação do rosto... Encontro e não conhecimento: revelação e não descoberta”411.
Subversão da filosofia: a ética é a condição primeira não só de se pensar a realidade, mas da realidade mesma.
Não se trata, então, de um capricho da razão, mas, em derradeira e essencial análise, de um trauma sem igual412, da urgente reconsideração da condição de sobrevivência humana, de uma nova “antropologia” mais lúcida e menos perdida em suas variadas projeções sempre solitárias: a verdadeira conditio humana revisitada em seu núcleo mais recôndito e menos traduzível em boas palavras.
Mas é ainda “mais”: é a própria condição de a racionalidade ser racional e de o mundo ser real, e não sombras totalizantes ou fantasmagorias de espíritos medrosos, em uma inaudita dimensão abissal de radicalidade.
Que o pensamento aprenda finalmente a ousar ir além dele mesmo, para aceitar eticamente o que não é ele: eis a urgente tarefa que, desde esta constatação fundamental, se impõe na ordem do tempo.
Ricardo Timm de Souza
1997
Publicado originalmente em Veritas
Publicado originalmente em Veritas
– Revista de Filosofia da PUCRS,
junho/1999
Ricardo Timm: | A contribuição de Lévinas à humanização da sociedade |
A Ética é um pressuposto da Democracia. Sem Ética, a Democracia degenera em burocracia formal, ou é esvaziada de sentido humano-político. Só a Ética, como exercício político, pode investir a Democracia de substância real. Por isso, a Ética é a filosofia primeira - como dizia Lévinas - também no que diz respeito às configurações políticas democráticas.”
A ponderação é do filósofo Ricardo Timm na entrevista exclusiva que concedeu por e-mail à IHU On-Line.
Ele propõe que o termo tolerância, cunhado pela modernidade esclarecida, seja substituído por solidariedade, o que seria mais adequado ao pensamento levinasiano. Ele próprio explica:
“Quem tolera faz uma concessão ao Outro;
quem solidariza,
compreende que não pode ser sem o Outro”.
Assim, Lévinas tem muito a ensinar no que tange à humanização da sociedade contemporânea.
Timm é graduado em Instrumentos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Estudos Sociais e Filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Também cursou o mestrado em Filosofia, pela mesma universidade, e doutorado em Filosofia, pela Universität Freiburg (Albert-Ludwigs) com a tese Wenn das Unendliche in die Welt des Subjekts und der Geschichte einfällt - Ein metaphänomenologischer Versuch über das ethische Unendliche bei Emmanuel Lévinas.
Escreveu inúmeros livros, entre eles,
- Sujeito, Ética e História
- Lévinas, o traumatismo infinito e a crítica da filosofia ocidental (Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999),
- A condição humana no pensamento filosófico contemporâneo (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004) e
- Em torno à diferença - Aventuras da alteridade na complexidade da cultura contemporânea (Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007).
É também um dos organizadores de Alteridade e Ética - Obra comemorativa dos 100 anos do nascimento de Emmanuel Lévinas (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008).
A ponderação é do filósofo Ricardo Timm na entrevista exclusiva que concedeu por e-mail à IHU On-Line.
Ele propõe que o termo tolerância, cunhado pela modernidade esclarecida, seja substituído por solidariedade, o que seria mais adequado ao pensamento levinasiano. Ele próprio explica:
“Quem tolera faz uma concessão ao Outro;
quem solidariza,
compreende que não pode ser sem o Outro”.
Assim, Lévinas tem muito a ensinar no que tange à humanização da sociedade contemporânea.
Timm é graduado em Instrumentos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Estudos Sociais e Filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Também cursou o mestrado em Filosofia, pela mesma universidade, e doutorado em Filosofia, pela Universität Freiburg (Albert-Ludwigs) com a tese Wenn das Unendliche in die Welt des Subjekts und der Geschichte einfällt - Ein metaphänomenologischer Versuch über das ethische Unendliche bei Emmanuel Lévinas.
Escreveu inúmeros livros, entre eles,
- Sujeito, Ética e História
- Lévinas, o traumatismo infinito e a crítica da filosofia ocidental (Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999),
- A condição humana no pensamento filosófico contemporâneo (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004) e
- Em torno à diferença - Aventuras da alteridade na complexidade da cultura contemporânea (Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007).
É também um dos organizadores de Alteridade e Ética - Obra comemorativa dos 100 anos do nascimento de Emmanuel Lévinas (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008).
IHU On-Line - Podemos dizer que Lévinas funda uma filosofia do diálogo? Por quê? Que características teria essa filosofia?
Ricardo Timm - Em certo sentido, Lévinas pode ser compreendido como um pensador afiliado às chamadas “Filosofias do Diálogo”. Estas escolas, das quais Martin Buber é um dos autores mais conhecidos, se caracteriza por estabelecer, como condição básica do próprio filosofar, a centralidade da interlocução, ou seja, a filosofia não pode ser concebida a partir de uma relação lógica “sujeito pensante-objeto do pensamento”, pois há sempre a presença de um Outro que permite apenas um encontro filosófico, e nunca uma objetificação do pensado.
Ricardo Timm - Em certo sentido, Lévinas pode ser compreendido como um pensador afiliado às chamadas “Filosofias do Diálogo”. Estas escolas, das quais Martin Buber é um dos autores mais conhecidos, se caracteriza por estabelecer, como condição básica do próprio filosofar, a centralidade da interlocução, ou seja, a filosofia não pode ser concebida a partir de uma relação lógica “sujeito pensante-objeto do pensamento”, pois há sempre a presença de um Outro que permite apenas um encontro filosófico, e nunca uma objetificação do pensado.
IHU On-Line - Em que aspectos esse diálogo pode contribuir para o desenvolvimento da tolerância em nossa sociedade contemporânea?
Ricardo Timm – “Tolerância” é um termo da modernidade esclarecida, que deveria, hoje, no mundo contemporâneo, ser substituído pelo termo “solidariedade”. Quem tolera faz uma concessão ao Outro; quem solidariza, compreende que não pode ser sem o Outro. Por isso, proponho a substituição do termo “tolerância” por ”solidariedade”, sempre que se estiver fazendo referência a uma humanização da sociedade contemporânea. E, neste sentido preciso, Lévinas tem muito a ensinar.
Ricardo Timm – “Tolerância” é um termo da modernidade esclarecida, que deveria, hoje, no mundo contemporâneo, ser substituído pelo termo “solidariedade”. Quem tolera faz uma concessão ao Outro; quem solidariza, compreende que não pode ser sem o Outro. Por isso, proponho a substituição do termo “tolerância” por ”solidariedade”, sempre que se estiver fazendo referência a uma humanização da sociedade contemporânea. E, neste sentido preciso, Lévinas tem muito a ensinar.
IHU On-Line - Quais são as relações mais importantes que esse filósofo traçou entre alteridade e ética?
Ricardo Timm - Para Lévinas, a Ética - e, por extensão, a Filosofia como tal - não pode ser pensada sem a Alteridade, pois é de nossa relação com a Alteridade que todas as condições para o pensamento filosófico se efetivam. Para pensarmos, filosoficamente ou não, é necessário existirmos; e só existimos se houvermos sido eticamente tratados ao longo de nossa vida, ou seja, por óbvio, que não tenhamos sido assassinados. E “eticamente tratados” envolve necessariamente a multiplicidade e a Alteridade.
Ricardo Timm - Para Lévinas, a Ética - e, por extensão, a Filosofia como tal - não pode ser pensada sem a Alteridade, pois é de nossa relação com a Alteridade que todas as condições para o pensamento filosófico se efetivam. Para pensarmos, filosoficamente ou não, é necessário existirmos; e só existimos se houvermos sido eticamente tratados ao longo de nossa vida, ou seja, por óbvio, que não tenhamos sido assassinados. E “eticamente tratados” envolve necessariamente a multiplicidade e a Alteridade.
IHU On-Line - Em que consiste a busca metafenomenológica do infinito ético em Lévinas?
Ricardo Timm - Em levar a fenomenologia ao extremo de suas possibilidades, abrindo assim um novo campo de encontro com a realidade, no qual esta não é mais correlata da intencionalidade intelectual ou existencial, como na fenomenologia, mas interlocutora de e sobre o sentido do encontro com ela estabelecido - um encontro entre o Mesmo e o Outro.
Ricardo Timm - Em levar a fenomenologia ao extremo de suas possibilidades, abrindo assim um novo campo de encontro com a realidade, no qual esta não é mais correlata da intencionalidade intelectual ou existencial, como na fenomenologia, mas interlocutora de e sobre o sentido do encontro com ela estabelecido - um encontro entre o Mesmo e o Outro.
IHU On-Line - Lévinas dizia que Rosenzweig era um filósofo muito presente em sua obra para ser citado. Quais são as idéias principais desse autor que aparecem no corpus levinasiano?
Ricardo Timm - Especialmente a idéia de que a realidade, em sua origem, é múltipla, e que, portanto, toda redução do múltiplo ao uno, do Outro ao Mesmo, é uma forma de exercício de violência.
IHU On-Line - E no campo político, especificamente na democracia, como essa filosofia poderia auxiliar a desenvolver o respeito pelas singularidades?
Ricardo Timm - A Ética é um pressuposto da Democracia. Sem Ética, a Democracia degenera em burocracia formal, ou é esvaziada de sentido humano-político. Só a Ética, como exercício político, pode investir a Democracia de substância real. Por isso, a Ética é a filosofia primeira - como dizia Lévinas - também no que diz respeito às configurações políticas democráticas.
Ricardo Timm - Especialmente a idéia de que a realidade, em sua origem, é múltipla, e que, portanto, toda redução do múltiplo ao uno, do Outro ao Mesmo, é uma forma de exercício de violência.
IHU On-Line - E no campo político, especificamente na democracia, como essa filosofia poderia auxiliar a desenvolver o respeito pelas singularidades?
Ricardo Timm - A Ética é um pressuposto da Democracia. Sem Ética, a Democracia degenera em burocracia formal, ou é esvaziada de sentido humano-político. Só a Ética, como exercício político, pode investir a Democracia de substância real. Por isso, a Ética é a filosofia primeira - como dizia Lévinas - também no que diz respeito às configurações políticas democráticas.
IHU On-Line.
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=11122&cod_canal=41
Emmanuel Lévinas
EMMANUEL LÉVINAS ? FILÓSOFO DA ALTERIDADE | |||||
Emmanuel Lévinas EMMANUEL LÉVINAS ? FILÓSOFO DA ALTERIDADE Sua vida teve começo na Lituânia, em Kaunas, janeiro de 1906. Herdeiro de uma cultura judaica cresceu em um ambiente em que as vozes soavam russo e hebraico, idiomas falados e estudados em sua casa. Aos nove anos de idade Lévinas sua infância recebia de seu pai, um livreiro, a influencia pelos livros. Foi quando, nesta época, os judeus foram expulsos da Lituânia e sua família foi obrigada a emigrar para a Ucrânia, onde Lévinas fez o curso secundário. Somente em 1929, aos vinte e três anos é que a família volta para Lituânia, porém o filósofo logo resolve morar sozinho, matriculando-se na Universidade de Estrasburgo. Sua vida intelectual começa por curto período quando se torna seguidor da filosofia do processo de Henry Bérgson, seguido pela escola da fenomenologia de Edmund Husserl, ali estudo de 1928 a 1929, quando encontra Martin Heidegger. Porém, o filósofo segue para França a fim de completar sua primeira obra, A TEORIA DA INTUIÇÃO NA FENOMENOLOGIA DE HUSSERL, onde retém os princípios do método fenomenológico, que são, eminentemente primeiro, uma descrição dos atos do espírito, de sua intencionalidade e de suas afeições (de sua sensibilidade); segundo, uma reflexão a partir do indivíduo. É a partir dessas posições que emerge uma concepção particular de ética, compreendida como o permanente reconhecimento do outro. Também trabalha na tradução MEDITAÇÕES CARTESIANAS. No entanto mantinha distância das interpretações radicais dos textos fenomenológicos. Nesse período, na França, ensinando na Aliança Israelita Universal, casa-se e nos anos que se seguem teve dois filhos. Conhece o existencialismo religioso de Gabriel Marcel. Surge no meio político o movimento Socialista Nacional, fato que o deixa transtornado, mas o fato que o entristece é o apoio ideológico que Martin Heidegger deu ao partido nazista. Neste momento, Lévinas publica seu primeiro artigo, REFLEXÕES SOBRE A FILOSOFIA DO HITLERISMO na Revista Esprit (Paris, 1934). Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Lévinas faz parte do exército francês como tradutor, pois tinha fluência nas línguas russa e alemã. No entanto, é capturado por volta de 1940 pelo exército alemão, sendo levado como prisioneiro para um campo de trabalhas forçados e não para o campo de concentração por estar de uniforme francês. Sua família em Lituana foi morta ainda nos primeiros anos da guerra. Na França sua esposa e seu primeiro filho foram levados rapidamente para um mosteiro pelo amigo Maurice Blanchot. Durante este tempo escreveu EXISTENTE E EXISTENTES, onde elabora a liberdade do existente sobre o existir. Ele constrói seu pensamento a partir de uma idéia de que consciência precisa das coisas para conceber-se, e as coisas precisam da consciência para ter sentido. Fim da guerra. Lévinas tornou-se diretor de um instituto de estudos judaicos e durante quatro anos dedicou-se ao estudo intensivo do Talmude que resultou num escrito volumoso sobre JUDEIDADE. 1961 apresenta sua obra TOTALIDADE E INFINIDADE. 1973 ocupou a cátedra de filosofia na Sorbonne, aposentando-se em 1979. Leciona depois na universidade de Paris-Sorbone (1973-1984). Lévinas morreu dia 27 de dezembro de 1995,menos de uma semana antes de seu aniversário de 90 anos. http://www.filosofia.com.br/bio_popup.php?id=70 | |||||
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Fonte:
Sentido e Alteridade
DEZ ENSAIOS sobre o pensamento de
Emmanuel Levinas
DEZ ENSAIOS sobre o pensamento de
Emmanuel Levinas
Porto Alegre - 2009
http://www.pucrs.br/edipucrs/sentidoealteridade/pag1.html
http://www.pucrs.br/edipucrs/sentidoealteridade/pag1.html
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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