terça-feira, 26 de julho de 2011

Baruch Spinoza - Natureza de Deus

Espinosa: Deus e Natureza

Baruch de Spinoza
Baruch de Spinoza

Benedito de Espinosa nasceu em Amsterdã, em 24 de novembro de 1632, no seio da família judaica Spinoza de portugueses foragidos da perseguição pela Inquisição.

Spinoza defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura (“Deus ou Natureza” em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.

A sua visão da natureza da realidade, 
então, fez tratar os mundos físicos e mentais
como dois mundos diferentes ou submundos paralelos 
que nem se sobrepõem nem interagem 
mas coexistem em uma coisa só que é a substância. 

Esta formulação é uma solução pampsíquica relacionada à particular concepção panteísta de Spinoza. Pampsiquismo ou fenômeno psicofísico é, segundo Umberto Padovani, a influência recíproca entre alma e o corpo, concepção historicamente ligada ao monismo.

Spinoza também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca da contigência. Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente determinado, sendo então a liberdade a nossa capacidade de saber que somos determinados e compreender por que agimos como agimos. Deste modo, a liberdade para Spinoza não é a possibilidade de dizer “não” àquilo que nos acontece, mas sim a possibilidade de dizer “sim” e compreender completamente por que as coisas deverão acontecer de determinada maneira.

A filosofia de Spinoza tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estóicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. 

Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as emoções activas e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas racionalmente e as outras as que não o são.

No verão de 1656, foi excomungado na Sinagoga Portuguesa de Amsterdã pelos seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza e do universo, e a Bíblia uma obra metafórico-alegórica que não pede leitura racional e que não exprime a verdade sobre Deus.

Morreu num domingo, 20 de fevereiro de 1677, aos quarenta e quatro anos, vitimado pela tuberculose.

Artigo
     Conceito de natureza em Espinosa

         Baruch de Espinosa, filósofo holandês de descendência portuguesa (1632-1677), acreditava que tudo é governado por uma necessidade de lógica absoluta. 

A ordem da natureza é geométrica. 
Nada há que ocorra por acaso no mundo físico; 
tudo o que acontece é uma manifestação
da natureza imutável de Deus.

            Em seu pensamento, a idéia de Deus é a de um ser que se confunde inteiramente com a natureza, quer seja esta criada ou crie-se a si mesma. As coisas acontecem mecanicamente, e o mecanismo é a razão, o mundo é a natureza e o que o movimenta é a razão e essa natureza é divina ¾ Deus ou Natureza.


            “Da necessidade da natureza divina 
podem resultar coisas infinitas 
em número infinito de modos,
isto é, tudo o que pode cair sob um intelecto divino’’. 
(Espinosa, Ética, Prop. XVI, p. 100 ).

            Segundo o filósofo, Deus existe necessariamente. Cada coisa que existe é um modo, uma manifestação de Deus. Natura naturante é a própria substância, Deus e sua essência infinita; Natura naturata são os modos e as manifestações da essência divina: o Mundo. A natureza naturante, isto é, Deus; prolonga-se na matéria como modo de manifestação de Deus; este se basta a si mesmo no processo de automanifestação contínua – Natureza Criadora.

            No momento em que toda a natureza decorre necessariamente da essência de Deus, não existem imperfeições na natureza. Assim, na natureza, o poder pelo qual as coisas existem e atuam não é outro senão o poder eterno de Deus. Existir, ser e agir são a mesma coisa, e tudo o que existe é necessário, e não há contingência no universo.


‘’Na natureza nada existe de contingente; 
antes, tudo é determinado pela necessidade
da natureza divina a existir e a agir de modo certo’’ 
( Idem, prop. XXIII, L. I, P.113).

            Ainda segundo Espinosa, tudo o que existe depende de Deus, sem ele nada pode ser concebido; isso porque a natureza produz de diferentes modos, o conceito de substância na natureza é o de que tudo é bom, Deus é bom – que se vê não é o necessário, é o contingente, nada é estranho à Natureza divina, pois tudo faz parte de sua natureza, tudo está previsto no poder da substância criadora.

            Este pensar conduz à uma visão da natureza onde ao sistema das causas mecânicas se superpõe um mundo regido por causas finais. Pois a multiplicidade dos modos (de Deus) não é contrária à unidade, porque esta se relaciona no seu ser e seu agir a ordem unitária de Deus.

            De outro modo, as emoções não são separadas da natureza, são coisas naturais, e, assim, estão sujeitas às leis da natureza. A Natureza,(Deus), age em virtude da necessidade da qual existe. Não há fins na natureza, mas necessidade intrínseca. A emoção é geralmente uma idéia confusa, o homem, como uma parte da natureza, sabe que tudo procede da natureza divina, e que tudo acontece segundo suas leis eternas.

O homem sabe que é capaz de substituir a emoção pela razão, na medida em que tiver consciência de sua liberdade, e uma vez que tenha compreendido a natureza das emoções, compreenderá que a razão não é contrária à natureza; assim como as emoções, esta é uma tendência natural do homem.


            O intelecto humano é parte do intelecto infinito de Deus
é uma idéia, um modo do atributo do pensamento, 
e todas as idéias ou corpos surgem 
como manifestação necessária de Deus. 

Para que o homem tenha um conhecimento total da unidade da mente com a totalidade da natureza é preciso que ele, ao mesmo tempo, conheça a si próprio e conheça a natureza: que é por extensão conhecer, ou reconhecer, a Deus.

            Para que o homem se compreenda e compreenda o que lhe acontece é necessário relacionar os acontecimentos com a idéia de Deus, já que tudo é parte de Deus. Desse modo, o homem está sujeito a seguir e a obedecer a esta ordem necessária para manter em equilíbrio seu ser. Entretanto, o homem é apenas uma parte da natureza, e esta, naturalmente, não está restrita às necessidades humanas mas a infinitas outras leis que se estendem à totalidade da natureza.

O homem não pode, 
portanto, ser causa necessária de sua existência;
logo, pode vir a sofrer mudanças exteriores à sua natureza, 
como, por exemplo, ser afetado pelas paixões.

            A Natureza é pensante; este ‘’pensar’’, é a própria essência de Deus. Os atributos de Deus se fundamentam na unidade. A natureza é una, qualquer coisa, qualquer atributo de Deus resulta necessariamente de sua  natureza absoluta. Assim, qualquer que seja o modo como concebamos a natureza, seja como extensão, pensamento ou qualquer outro atributo, sempre se encontra uma só ordem, uma única união de causas, uma só realidade: esta realidade é o mesmo que Deus.

            Como Deus é a própria natureza, esta é, portanto, perfeitíssima e boa, porque o poder da natureza é o próprio poder de Deus, e o direito natural, o poder de Deus pelo direito que tem sobre todas as coisas. É somente pela liberdade absoluta desse poder que todo ser da natureza tem capacidade para existir e agir.

Entretanto, Deus não é criador, pois isto suporia um limite a seu ser, Deus é a manifestação necessária de sua essência, ele é a sua própria causa, substância essencial, absoluta, única, infinita, a partir da qual tudo está determinado a existir, tanto em essência quanto em existência, ou seja, Deus se manifesta no existente, na totalidade da natureza, e esta manifesta a totalidade da existência e potência de Deus como causa eficiente imanente: pois a existência do mundo é a manifestação eterna, infinita e absoluta da essência de Deus.

‘’A Natureza inteira 
é um só indivíduo cujas partes, 
sto é, todos os corpos, variam de infinitas maneiras, 
sem qualquer mudança do indivíduo na sua totalidade’’.

(Idem, Prop. XIII, escólio, L. II, p. 155).

            Necessariamente, somos levados, segundo Espinosa, a concluir que o amor a Deus deve ocupar o primeiro lugar na mente do homem, pois esta troca amorosa no plano intelectual é parte do amor infinito com que Deus ama a si mesmo, e o bem mais alto que acaricia o espírito é o conhecimento desse amor comparticipado; a perfeita harmonização do uno: Deus, Natureza, Homem, ou seja, ‘’Deus ou Natureza’’.

‘’Não existe nada na natureza 
que seja contrário a este amor intelectual,
por outros termos, que o possa destruir’’.

(Idem, Prop. XXXVII, L. V, p. 303).

Dalva de Fátima Fulgeri
Licenciada em Filosofia/Unisantos



Bibliografia:
ESPINOSA, Baruch. Ética, 
Tratado Político. São Paulo : Abril Cultural, 1978, Col. Pensadores.
CHAÜI, Marilena de Souza. 
Espinosa: uma filosofia da liberdade. São Paulo: Moderna, 1995, Col. Logos.
Fonte:
 por cogitamundo
Paradigmas
08/12/2008 
http://cogitamundo.wordpress.com/2008/12/08/espinosa-deus-e-natureza/ 
http://www.paradigmas.com.br/parad07/paradp7.8.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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