quinta-feira, 19 de maio de 2011

FANTASIA - C.G.Jung

 

 C.G.Jung

Fluxo ou agregado de imagens e idéias na PSIQUE inconsciente, constituindo sua atividade mais característica. Deve-se distingui-la de pensamento ou cognição (porém ver PENSAMENTO DIRIGIDO E DE FANTASIA). Interpretado por Jung como tendo lugar, inicialmente, de forma independente da consciência do ego, muito embora potencialmente em relação com ela (ver EGO).

A fantasia inconsciente é o resultado imediato da operação de estruturas arquetípicas (ver ARQUÉTIPOS). Embora a matéria-prima para a fantasia inconsciente possa derivar, em parte, de elementos conscientes (tais como lembranças de pessoas reais ou experiências com elas), estes não estão objetivamente ligados à fantasia. Segue-se que é preciso fazer uma distinção entre a presença de figuras reais, externas, na fantasia funcionando como matéria-prima para a fantasia, e figuras que podem servir de ponte na divisão interno-externo (ver adiante).

Talvez possamos dizer que um “casamento” entre um potencial arquetípico e uma correspondência humana circunstancial é diferente do uso de material externo pela psique na intenção específica de construir uma fantasia inconsciente, que pode servir como ponto de partida para aquele.

Esse tipo de fantasia pode-se dizer que “matiza” a vida pessoal, enchendo-a de formas segundo esquema inconsciente preexistente. Jung escreve sobre tais fantasias como “desejando” tornar-se conscientes e não se exige do indivíduo fazer qualquer coisa com relação a elas para concretizá-las – na realidade, tendem a irromper na CONSCIÊNCIA. Daí, Jung chamava-as de fantasias “passivas” (Cf. Isaacs, 1952, para esclarecimento do uso kleiniano da “fantasia inconsciente”).

Por outro lado, fantasias “ativas” de fato requerem o auxílio do ego para emergirem na consciência. Quando isso ocorre, temos uma fusão das áreas consciente e inconsciente da psique; uma expressão da unidade psicológica da pessoa. A relação entre o ego e a fantasia, portanto, era de grande importância para Jung, tanto como expressão do SELF quanto uma forma de trabalho terapêutico (ver IMAGINAÇÃO ATIVA).

O julgamento de Jung de que as fantasias passivas são normalmente patológicas, enquanto as fantasias ativas são altamente criativas, parece suspeito ou, pelo menos, contraditório. 

Isto porque um outro aspecto de sua definição de fantasia (CW 6, parágs. 711-22) é o de uma atividade imaginativa, um processo completamente natural, espontâneo e criativo da psique. Dificilmente poderia ser patológico. Parece provável que, a fim de fazer ressaltar a dicotomia ativo/passivo, Jung dava muito pouca atenção ao eventual papel do EGO com relação à fantasia inconsciente (ver FUNÇÃO TRANSCENDENTE).

Como os SONHOS (que Jung compara a fantasias passivas, uma confirmação das dúvidas expressas no parágrafo anterior), as fantasias podem ser interpretadas. Jung afirmava que a fantasia tem seu conteúdo manifesto e latente e que é suscetível de uma interpretação redutiva e/ou sintética (ver MÉTODOS REDUTIVO E SINTÉTICO).

Os principais constituintes da fantasia são as imagens, porém deve-se compreender isso em um sentido abrangente como se referindo a quaisquer elementos ativos na psique quando existe ausência de estímulos diretos, e não meramente visualizações que se originam em estímulos externos. O termo “imagem” é usado para sinalizar uma lacuna existente entre a fantasia e o mundo externo (ver IMAGEM; IMAGO)

Na concepção de Jung, são a fantasia e suas imagens que estão por trás dos sentimentos e do comportamento, sustentando-os, e não vice-versa. As fantasias não são versões secundárias e codificadas de problemas emocionais ou de comportamento.

A psicologia de Jung 
é uma psicologia do INCONSCIENTE 
e o inconsciente é o fator primário e dinâmico.

Aqui também alguns autores desejariam restringir um pouco esse aspecto, dando mais importância à qualidade da experiência (e, daí, das características) do mundo externo. Às vezes, a habitual preocupação de Jung em ligar oposições lógicas ou racionais por meio de um fator psicológico, simbólico, indica que ele, também, se torna consciente da excessiva rigidez da divisão. Então se refere à fantasia como unindo uma idéia ou uma imagem (a que falta uma realidade tangível) e uma entidade no mundo físico (a que falta uma mente ou um lugar na mente). 

Quando a fantasia realiza esse vínculo, Jung a ela se refere como um “terceiro” fator (CW 6, parág. 77-8). Existe um paralelismo com uso, por Winnicott (1971), do termo “terceira área” para indicar uma tentativa do bebê de manter em um sistema organizado a fantasia do mundo interior e a realidade do mundo exterior (ver OPOSTOS; REALIDADE PSÍQUICA).

O problema é que agora temos duas discrepantes definições de fantasia: (a) como diferente e separada da realidade externa, e (b) como unindo mundos interior e exterior.

Esta dificuldade pode ser resolvida se entendemos por “mundo interior” alguma coisa em esboço e presente apenas em forma estrutural. Então fantasia poderia ser o fator de ligação entre o arquétipo e a realidade externa, enquanto está, ao mesmo tempo, em relação opositiva àquela realidade.

Existe conexão entre a fantasia e a criatividade artística, embora Jung ponderasse que os artistas não reproduzem simplesmente suas fantasias. A arte de natureza “psicológica” pode envolver o artista que se utiliza de sua situação pessoal – mas isso é outra coisa. Jung também escreveu sobre a arte como “visionária”, indo além dos limites do artista individual, uma comunicação direta proveniente da sabedoria arcaica da psique.
APRESENTAÇÃO DA RUBEDO:
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/aprerubd.htm
A parceria da Rubedo com Andrew Samuels se expressa na tradução 
de seus textos e entrevistas ( disponíveis no site), se confirma em pequenas palestra
realizada no Rio de Janeiro e se presentifica neste projeto em comum:
a edição eletrônica do Dicionário Crítico de Análise Junguiana.
          Carlos Bernardi
          Marta Maria Sardinha Chagas
          Marcus Vinícius Quintaes
Fonte:
Dicionário Crítico de Anáse Junguiana
Rubedo
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/funtrans.htm
www.rubedo.psc.br
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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