quinta-feira, 19 de maio de 2011

IMAGEM DE DEUS - C.G.Jung




C.G.Jung

IMAGEM


Muito embora seja possível determinar um tempo e um lugar em particular para a definição de SÍMBOLO de Jung, é menos fácil descrever a evolução de suas idéias sobre a imagem. Talvez seja verdade que a progressão desde se falar de símbolo até a concentração sobre a imagem é um fenômeno da psicologia analítica em seu período pós-junguiano (cf. Samuels, 1985a), porém uma observação exata dos escritos pessoais de Jung parece substanciar uma definição de imagem que contém ou amplifica o símbolo, sendo o contexto em que este se insere, seja pessoal ou coletivo.

O trabalho a que Jung se dedicou em sua vida, lado a lado com seus escritos, parece dominado por determinadas configurações psíquicas em torno das quais ele se move em CIRCUMAMBULAÇÃO, vendo-as sempre de modo mais profundo e nítido, assim possibilitando-o a preencher ou moldar uma forma básica. 

Portanto, embora misturasse as palavras símbolo e imagem em diferentes ocasiões, em sua carreira profissional, usando estas palavras quase como sinônimos uma da outra, afinal de contas iria parecer que ele concebia a imagem tanto anterior a como maior que a soma de seus componentes simbólicos. Em suas próprias palavras:

“A imagem é uma expressão condensada 
da situação psíquica como um todo
e não meramente, ou mesmo predominantemente, 
de conteúdos inconsciente puros e simples” 
(CW 6, parág. 745).


A compreensão da imagem por Jung modificou-se no curso de toda uma vida. Originalmente formulada como um conceito, a imagem era experimentada como uma presença que acompanhava a psique. Sua mais notável descoberta verificada empiricamente, poderia ser de que a própria psique não ocorre “cientificamente”, isto é, mediante hipótese e modelo, mas sim imagisticamente, isto é, através do MITO e da METÁFORA. Contudo, Jung diz sobre a imagem:


Ela, sem dúvida, realmente expressa conteúdos inconscientes, mas não o todo deles, apenas aqueles que estão momentaneamente constelados. Essa constelação é o resultado da atividade espontânea do INCONSCIENTE, por um lado, e da momentânea situação consciente, pelo outro... 

A INTERPRETAÇÃO de seu significado,
portanto, não pode partir nem do consciente 
exclusivamente nem do inconsciente exclusivamente, 
mas somente do relacionamento recíproco destes 
(ibid., grifo acrescentado).


Isso realça o lugar da emoção e do AFETO com respeito às imagens. Enquanto, considerando-se de um ponto de vista causal, teórico ou científico, as imagens são supostamente objetivas, por sua natureza são também altamente subjetivas (ver MÉTODOS REDUTIVO E SINTÉTICO).

Em virtude da imagem ser um continente dos opostos, em contraste com o símbolo que é um mediador dos opostos, não se prende a uma posição qualquer, porém em cada uma podem ser encontrados elementos dela. Como exemplo, a imagem da ANIMA é tanto uma experiência interior como exterior a um só e mesmo tempo; do mesmo modo que “mãe” ou “rainha”.

Em parte, o trabalho da ANÁLISE consiste na diferenciação que prepara uma reunificação dos OPOSTOS como parte de um conjunto de imagens renovado e mais consciente. Quer dizer, a vida por ser real não é menos psicológica.
 

A imagem é sempre uma expressão da totalidade percebida e percebível, apreendida e apreensível, pelo indivíduo. Enquanto, sobretudo no fim de sua vida, Jung discriminava entre a imagem arquetípica e o ARQUÉTIPO per se, na prática são as imagens que excitam o observador (por exemplo, o sonhador) até o grau de ele ser capaz de incorporar ou compreender ou realizar (tornar consciente) o que ele percebe.

De acordo com Jung, 
a imagem é dotada de um poder gerador; 
sua função é incitar; 
ela é psiquicamente compelidora.


Resumindo, as imagens têm a facilidade de gerar suas iguais; movimento nas imagens em direção à sua realização é um processo psíquico que nos atinge pessoalmente. Tanto observamos de fora como também participamos ou sofremos como uma figura no drama.

“É um fato psíquico”, escreve Jung, “que a FANTASIA está acontecendo e ela é tão real como você – enquanto entidade psíquica – é real. Se essa operação crucial de entrar ativamente em sua própria reação não é levada a cabo, todas as mudanças são deixadas ao fluxo das imagens e a pessoa mesmo não muda.” (CW 14, parág. 753). 

A vida psicológica enfatiza, sobretudo, a necessidade de uma reação subjetiva às imagens, desse modo estabelecendo um relacionamento, um diálogo, um envolvimento ou um toma-lá-dá-cá que resulta eventualmente em uma CONIUNCTIO, em que tanto a pessoa como a imagem são afetadas (ver EGO; FUNÇÃO TRANSCENDENTE; IMAGINAÇÃO ATIVA). 

Esse relacionamento 
é o foco de atenção atual 
entre psicólogos analíticos, 
simbolizada por uma ênfase em empatia, 
relacionar-se e EROS.


Embora boa parcela de atenção tenha sido dada aos símbolos individuais, Hillman (1975) também tentou esclarecer o conceito de imagem. 

O relacionamento apropriado entre o indivíduo e a imagem é expresso por um estudioso do islamismo, Corbin (1983): “a própria imagem abre caminho àquilo que jaz além dela, em direção àquilo que simboliza”. Corroborando isso, temos a afirmação de Jung:

“Quando a mente consciente
participa ativamente e experimenta
cada estágio do processo, 
ou pelo menos o compreende intuitivamente, 
então a imagem seguinte 
(uma ampliação da imagem original) 
sempre brota no nível mais elevado
que se conquistou e uma intencionalidade 
se desenvolve” 
(CW 7, parág. 386). 


IMAGEM DE DEUS
Em termos psicológicos, 

Jung postulava a realidade de uma imagem de Deus 
como um SÍMBOLO unificador e transcendente
capaz de reunir fragmentos psíquicos
heterogêneos ou unir OPOSTOS polarizados.

Como qualquer IMAGEM, é um produto psíquico distinto do objeto que ela tenta representar e para o qual aponta. A imagem de Deus aponta para uma realidade que transcende a CONSCIÊNCIA, é extraordinariamente numinosa (ver NUMINOSO), obriga à atenção, atrai ENERGIA e é análoga a uma idéia que, de forma semelhante, se impôs à humanidade em todas as partes do mundo e em todas as eras.

Como tal, é uma imagem de totalidade e “como valor máximo e dominante supremo na hierarquia psíquica, a imagem Deus está imediatamente relacionada com o SELF ou é idêntica a ele” (CW 9ii, parág. 170).

Entretanto, sendo 

uma imagem de totalidade, 
a imagem de Deus possui dois lados:
um bom, o outro, MAL.
 
Esclarecendo e diferenciando Deus
e a imagem de Deus, Jung escreveu:


É por causa da constante indiscriminação entre objeto e imago que as pessoas não conseguem fazer uma distinção conceitual entre “Deus” e “imagem de Deus”, e portanto pensam que, quando se fala de “imagem de Deus”, está se falando de Deus e apresentando explicações “teológicas”.

Não cabe à psicologia, como uma ciência, exigir uma hipostatização da imagem de Deus. Porém sendo os fatos como são, tem de contar com a existência de imagem de Deus...  

a imagem de Deus corresponde a um COMPLEXO definido de fatos psicológicos, sendo, assim, uma quantidade com que podemos operar; mas o que Deus é em si mesmo permanece uma questão fora da competência de toda a psicologia (CW 8, parág. 528).


Do ponto de vista psicoterapêutico, 
a imagem de Deus funciona como uma igreja interior,
por assim dizer; 
como um continente psíquico,
um quadro de referência, 
um sistema e arbítrio moral. 

Jung aceitava como uma imagem de Deus tudo quanto o indivíduo alegava experimentar como Deus, aquilo que representava o valor máximo para uma pessoa, quer expresso consciente quer inconscientemente, e motivos religiosos típicos que reocorriam periodicamente na história das idéias, dogma, MITO, RITUAL e arte.

APRESENTAÇÃO DA RUBEDO:
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/aprerubd.htm
A parceria da Rubedo com Andrew Samuels se expressa na tradução 
de seus textos e entrevistas ( disponíveis no site), 
se confirma em pequenas palestrarealizada no Rio de Janeiro 
e se presentifica neste projeto em comum:
a edição eletrônica do Dicionário Crítico de Análise Junguiana.
          Carlos Bernardi
          Marta Maria Sardinha Chagas
          Marcus Vinícius Quintaes
 Fonte:
Dicionário Crítico de Análise Junguiana
Rubedo
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/funtrans.htm
www.rubedo.psc.br
 Sejam felizes todos os seres  Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres.

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