C.G.Jung
Este é um conceitos-chave de Jung e pode-se ver que ele o abordou de diferentes modos; como experiência, como IMAGEM e sugerindo a natureza e função da PSIQUE (ver PSIQUE OBJETIVA).
Como experiência. A realidade psíquica abarca tudo que afeta ou impressiona uma pessoa como real ou com a força de realidade. De acordo com Jung, experimenta-se a vida e os eventos desta mais em termos de verdade narrativa que de verdade histórica (o “MITO pessoal”).
O que se experimenta como realidade psíquica pode ser um a forma de auto-expressão e, em última análise, contribuir, de um modo cibernético, para a adição de novas camadas da realidade psíquica.
Uma ilustração específica disso pode ser encontrada na tendência do INCONSCIENTE de personificar seus conteúdos (ver PERSONIFICAÇÃO).
As figuras resultantes tornam-se reais no sentido de que exercem um impacto emocional sobre o EGO e passam por mudanças e desenvolvimento. Para Jung, a personificação era uma demonstração empírica da realidade psíquica.
A existência de opiniões, crenças, idéias e fantasias não significa que o que elas referem seja exato no grau e na forma pretendidos. Por exemplo, as realidades psíquicas de duas pessoas irão diferir de modo marcante. E um sistema delirante, psiquicamente real, não terá validade objetiva. Não obstante, não é a mesma coisa que dizer que não é verdadeiro.
Neste primeiro uso (o de um nível subjetivo da realidade), a relação da realidade psíquica com uma realidade hipotética externa ou objetiva é relevante de um ponto de vista mais clínico que teórico.
Como imagem. Hoje, em geral, concorda-se em que a estrutura do CÉREBRO (sua constituição neurofisiológica) e o contexto cultural afetam o que é percebido e, mais ainda, as interpretações dessas percepções. A tendência e o desejo pessoais também desempenham o que pode ser considerado como papel deturpador.
Esses fatores põem em questão a distinção convencional entre a “realidade” e a “fantasia” e, assim fazendo, Jung se coloca na tradição filosófica platônica, idealista. Também pode-se contrastá-lo com Freud, cuja idéia de “realidade psíquica” jamais superou sua crença de que existia uma realidade objetiva que poderia ser descoberta e, depois, medida cientificamente.
Jung estava entre os primeiros a apontar que toda a CONSCIÊNCIA é de uma natureza indireta, mediada pelo sistema nervoso e por outros processos psicossensoriais, isto para não mencionar operações lingüísticas. Experiências, por exemplo, de dor ou excitação chegam até nós numa forma já secundária. No léxico de Jung, isso imediatamente sugere imagens e que tanto o mundo interno como o externo são experimentados através de imagens e como imagens (ver METÁFORA).
As noções de mundos interno e externo são, elas próprias, imagens, aqui usadas metaforicamente. Tais entidades espaciais não têm existência, salvo na medida em que a realidade psíquica permite. Aqui Jung está usando o termo “imagem” de uma maneira inclusiva para denotar a ausência de um elo direto entre o estímulo e a experiência. Usando-se a palavra desse modo, manifestações somáticas podem também ser consideradas como imagens lado a lado com todo o mundo físico conforme experimentado na consciência (ver adiante).
A imagem é
que se apresenta à consciência
diretamente.
Colocando de outra forma, nós nos tornamos cientes de nossa experiência através do encontro com uma imagem dela.
Estes argumentos levaram Jung a concluir que, em virtude de sua composição imaginal, a realidade psíquica é a única realidade que podemos experimentar diretamente, uma opinião que serve para introduzir o terceiro modo como “realidade psíquica” é empregada.
Sugerindo a natureza e função da psique. De acordo com Jung, a psique (e a realidade psíquica) funciona como um mundo intermediário entre os reinos físico e espiritual, que nela se podem encontrar e misturar (ver ESPÍRITO). Problemas de tradução do alemão se introduzem aqui e é necessário acrescentar que por “físico” subentendem-se tanto os aspectos orgânicos como os inorgânicos do mundo material e que o “espiritual” incluiu pensamentos e cognições desenvolvidos.
Isso significa que a psique parece estar a meio caminho entre fenômenos tais como impressões sensoriais e a vida vegetal e mineral, por um lado, e, pelo outro, a ideação intelectual e espiritual (ver FANTASIA, de que também se diz funcionar como um “terceiro” fator entre o intelecto e o mundo material/sensual). A admissão da idéia da realidade psíquica põem fim à fácil aceitação da existência de um conflito inerente entre a mente e a matéria ou espírito e natureza, em que estes são considerados como radicalmente diferentes.
Por exemplo, Jung sugeria uma comparação entre o medo do fogo e o medo de fantasmas. Em termos da realidade psíquica, fogo e fantasmas (aparentemente bem diferentes) ocupam posições idênticas, ativando a psique da mesma forma.
Jung é cauteloso fazendo notar que este argumento nada diz quanto à origem última da matéria (fogo) ou do espírito (fantasmas); estes permanecem tão desconhecidos como antes. Apesar de que Jung não contestaria que as conseqüências negativas do contato com o fogo são normalmente diferentes daquelas do contato com fantasmas, é o fenômeno do medo que nos leva a uma compreensão da realidade psíquica.
Em sua aceitação da matéria sem distinção de seus aspectos orgânicos e inorgânicos, esta opinião sobre a realidade psíquica é mais abrangente que as suposições de Jung sobre o INCONSCIENTE PSICÓIDE ou a SINCRONICIDADE. No primeiro, ressalta a superposição entre processos psicológicos e fisiológicos. Na segunda, é a psique e a matéria inorgânica que são discutidas como se emaranhadas.
Embora a distinção de orgânico/inorgânico seja uma questão de ênfase, a natureza todo-abrangente da realidade psíquica, como uma categoria metapsicológica, pode ser mais precisamente comparada com a idéia do UNUS MUNDUS.
APRESENTAÇÃO DA RUBEDO:
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/aprerubd.htm
A parceria da Rubedo com Andrew Samuels se expressa na tradução
de seus textos e entrevistas ( disponíveis no site), se confirma em pequenas palestra
realizada no Rio de Janeiro e se presentifica neste projeto em comum:
a edição eletrônica do Dicionário Crítico de Análise Junguiana.
Carlos Bernardi
Marta Maria Sardinha Chagas
Marcus Vinícius Quintaes
Marta Maria Sardinha Chagas
Marcus Vinícius Quintaes
Fonte:
Dicionário Crítico de Anáse Junguiana
Dicionário Crítico de Anáse Junguiana
Rubedo
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/funtrans.htm
www.rubedo.psc.br
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Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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